terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Toxoplasmose: que análise pedir à INNO e como interpretar os resultados?


      
A INNO disponibiliza 4 tipos de análises para a Toxoplasmose: pesquisa de anticorpos policlonais, anticorpos IgM, anticorpos IgG e PCR.

A pesquisa de anticorpos policlonais é indicada para confirmar ou para descartar a presença da doença (pesquisa indiferenciada dos dois tipos de anticorpos IgG e IgM). A detecção de anticorpos policlonais é aconselhada em animais cujas proprietárias, não imunes à toxoplasmose, estão grávidas e que se apresentam à consulta para saber se os seus gatos constituem ou não um risco para a sua gravidez. Um gato seronegativo possui um maior risco em saúde pública, porque irá eliminar oocistos quando exposto pela primeira vez ao organismo. Os animais já expostos ao Toxoplasma e, portanto, imunizados, apresentam uma probabilidade de re-excreção muito baixa. A positividade do teste pode dever-se a anticorpos IgM (o que será raro em gatos saudáveis sem sinais clínicos), pelo que o animal deverá ser colocado em quarentena por um período de 1 a 3 semanas.

A pesquisa de anticorpos IgM é indicada para diagnóstico de infecção activa e na presença de sinais clínicos. Os anticorpos IgM são detectados a partir do 7º dia após infecção (PI) e começam a diminuir ao 20º dia PI.
A evidência de títulos de IgM ou um aumento de 4 vezes dos títulos de IgG ou IgA, pode significar uma infecção recente, mas não necessariamente eliminação de oocistos. Alguns gatos não desenvolvem títulos detectáveis de IgM e noutros estes títulos persistem durante meses ou anos após a infecção. Experimentalmente, detectaram-se títulos persistentes de IgM em gatos coinfectados com FIV ou sujeitos a corticoterapia ou com reexposição ao Toxoplasma.

A pesquisa de IgG é indicada para conhecer o estado de imunização do animal. Uma vez infectados, os animais apresentam quistos tecidulares durante o resto da vida, estimulando uma resposta imune humoral permanente e constante. 
Um gato seropositivo a IgG provavelmente não elimina oocistos e é menos provável que o faça se reexposto ou imunossuprimido. As recomendações são no sentido de evitar uma nova exposição a oocistos. 
Estudos demonstram que aproximadamente 80% dos gatos, experimentalmente inoculados com Toxoplasma, desenvolvem títulos detectáveis de IgM e 100% desenvolvem títulos detectáveis de IgG e IgA.
Vários anos após infecção experimental, podem ainda ser encontrados títulos de IgG maiores que 1:30000. Títulos persistentemente altos de IgG reflectem apenas a contínua presença do antigénio.

A INNO disponibiliza também PCR de Toxoplasma gondii em amostras biológicas (LCR, sangue EDTA, placenta, lavado brônquial e humor aquoso). É um teste muito sensível, no entanto, não permite a distinção entre infecção aguda ou infecção crónica subclínica em animais que apresentam quistos tecidulares.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Alterações à serologia de Leishmania pelo método ELISA

Desde Maio de 2012 as serologias realizadas na INNO para diagnóstico de Leishmania (ELISA) passaram a ser realizadas com o kit LEISCAN da Esteve Veterinária. As vantagens em termos de medidas de desempenho do método estão evidenciadas na tabela 1.

Utilizando como gold standard infecções experimentais e comprovação por PCR da positividade das amostras, o kit Leiscan demonstrou uma sensibilidade de 98%, o que equivale a ter a mais reduzida percentagem (2%) de falsos negativos quando comparado com outros kits ELISA. O método apresenta uma especificidade de 100%, o que significa que não apresenta falsos positivos; na prática clínica traduz-se na certeza de que um resultado positivo é sinónimo da presença de anticorpos anti-Leishmania (VPP=100%).



Sensibilidade
Especificidade
Valor preditivo positivo
Valor preditivo negativo
LEISCAN
98%
100%
100%
93%
ELISA 1
78%
100%
100%
63%
ELISA 2
76%
100%
100%
68%
Tabela 1 - Comparação dos diferentes métodos ELISA para diagnóstico de Leishmaniose canina

O kit oferece a possibilidade de controlar o ensaio em três pontos distintos (controlo negativo, positivo baixo e positivo) contra os dois pontos tradicionalmente utilizados. Importa ainda referir que os resultados da serologia passaram a ser emitidos em valores de Rz (Razão da amostra), de acordo com uma fórmula que relaciona a absorvância da amostra com a absorvância do controlo positivo baixo.

A razão da amostra (Rz) tem equivalência com um determinado título de IFI, de acordo com a seguinte tabela.

Razão (Rz) da amostra
Resultado
Correspondência IFI
Rz < 0,5
Negativo
Negativo
0,5 < Rz < 0,7
Negativo
1/20 a 1/40
0,7 < Rz < 0,9
Negativo
1/40 a 1/80
0,9 < Rz < 1,1
Duvidoso
1/80
1,1 < Rz < 1,5
Positivo Baixo
1/80 a 1/160
1,5 < Rz < 2
Positivo Alto
1/160 a 1/320
2 < Rz <3
Positivo Alto
1/320 a 1/640
3 < Rz < 4
Positivo Muito Alto
1/640 a 1/1280
Rz >4
Positivo Muito Alto
> 1/1280
Tabela 2 - Equivalência entre razão (Rz) da amostra e título determinado por IFI

Os médicos veterinários continuam assim a dispor da mesma informação, mas que anteriormente era obtida pela realização das quatro titulações, com a vantagem do preço cobrado ser de apenas uma titulação. Deste modo deixam de existir as seguintes opções na tabela de preços: Leishmania Ac – 2 titulações (ELISA) e Leishmania Ac – 4 titulações (ELISA). 

Acreditamos que esta alteração na metodologia representa um salto qualitativo no diagnóstico da leishmaniose, indo de encontro às elevadas expectativas dos clínicos que confiam na INNO como o laboratório de referência para o diagnóstico desta doença com tão elevada prevalência em Portugal. 


Como sempre, a equipa técnica da INNO está disponível para qualquer esclarecimento adicional, bastando para tal contactar-nos através dos números habituais.

sábado, 17 de novembro de 2012

Coronavírus felino e peritonite infecciosa felina

A Peritonite Infecciosa Felina (PIF) é uma doença imunomediada fatal causada por estirpes mutantes do Coronavirus felino (FCoV). Ocorre em gatos domésticos e selvagens, geralmente com menos de 3 anos, sendo por isso uma das mais importantes causas de morte em animais jovens. Pensa-se que estas formas mutantes do FCoV não são libertadas via fecal, mas que estão contidas nas localizações anatómicas afetadas (nas efusões ou órgãos em caso de PIF seca). A mutação ocorre no gene 3c do vírus o qual codifica uma pequena proteína de função desconhecida; a perda deste gene não impede a replicação do vírus in vivo ou in vitro, no entanto, altera drasticamente o seu tropismo celular, inibindo a sua interiorização e replicação nos macrófagos.

A maioria dos gatos infectados com FCoV não desenvolve PIF. No geral, existem 4 possíveis desfechos após exposição ao vírus:

  1. Apenas 5-10% desenvolvem PIF;
  2. A maioria excretam o vírus via fecal durante um tempo, desenvolvem anticorpos e param a excreção ao mesmo tempo que o título de anticorpos volta a zero. 58% das excreções do vírus ocorre durante um mês e 95% duram menos de 9 meses;
  3. 13% tornam-se portadores para toda a vida, excretando continuamente o vírus nas fezes. A maioria permanece saudável, enquanto que alguns desenvolvem diarreia crónica;
  4. 4% dos gatos aparentam ser completamente resistentes à infecção por FCoV, não excretando o vírus e tendo uma quase indetectável titulação de anticorpos.

Não existe um teste único comercialmente disponível para diagnosticar PIF, sendo a imunohistoquímica de efusões ou lesões considerado o gold standard. Os diferentes testes disponíveis para ajudar ao diagnóstico de PIF incluem:

  • Ac de FCoV no soro (especialmente útil em casos de PIF não efusivo, uma vez que apresentam títulos mais altos e são raramente negativos);
  • RT-PCR de FCoV em sangue EDTA (aconselhado em PIF não efusivo e em fases febris) ou em líquidos de efusão (o indicado para PIF efusivo);
  • Detecção de antigénio por imunohistoquímica em efusões ou tecidos biopsiados. Neste caso é necessária biópsia prévia para detectar as lesões com macrófagos infectados, sobre as quais se realizará a imunohistoquímica. As lesões de PIF não efusivo são frequentemente encontradas nos rins, linfonodos mesentéricos e, menos frequentemente, no fígado e linfonodos hepáticos;
  • Alfa 1 glucoproteína ácida (em soro); apesar de ser não específica para PIF, é uma proteína de fase aguda que, em casos de PIF, é geralmente >1500ug/mL (valores que a permitem distinguir de outras condições não inflamatórias clinicamente semelhantes a PIF).

Os testes serológicos devem apenas ser realizados em conjunto com uma história clínica compatível com PIF e após a pesquisa na efusão ou sangue de globulinas aumentadas e rácio A:G baixo. Só deste modo, os testes serológicos são úteis para gatos com suspeita de PIF, no entanto, apresentam limitações. Em primeiro lugar, muitos gatos saudáveis ou com outras condições para além de PIF podem ser seropositivos (biotipo entérico do FCoV). Em segundo lugar, alguns gatos com PIF efusivo podem apresentar títulos baixos ou serem mesmo negativos, uma vez que a grande quantidade de vírus presente está ligada a anticorpos, não estando disponível para se ligar ao antigénio do teste serológico. Pelo que, gatos seronegativos com suspeita de PIF efusiva devem ser examinados para a presença do vírus na efusão através do método PCR.

Apesar de o título de anticorpos não ser capaz de predizer se o animal desenvolveu PIF, reflete, no entanto, a carga viral do animal. Alguns autores sugerem que quanto maior a carga viral, maior a possibilidade de ocorrerem as mutações responsáveis pelo desenvolvimento de PIF.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Autoaglutinação em gato

Por aglutinação entende-se a formação de agregados de eritrócitos em forma de cacho de uva e ocorre em sangue de animais com anemia imunomediada. A aglutinação em animais anémicos é um indicador do efeito mediado por anticorpos, no entanto, a sua ausência não permite excluir uma anemia imunomediada.

Ocasionalmente, a aglutinação pode ser observada macroscopicamente (ainda no tubo EDTA ou quando colocada numa lâmina, figura 1) ou microscopicamente (em preparações não coradas a sangue fresco ou no esfregaço sanguíneo, figuras 2, 3 e 4).

A forma mais fácil de comprovar a presença de aglutinação é verificar microscopicamente a fresco se os eritrócitos permanecem agrupados quando o sangue é sujeito a uma diluição de 1:1 com soro fisiológico.

As causas de anemia hemolítica imunomediada podem ser primárias (pouco frequente em gatos) ou secundárias a: FeLV, hemoparasitas, Sarcocystis spp., hemangiossarcoma, neoplasias hematopoiéticas, intoxicação por zinco, picadas de abelha, fármacos (penicilina, cefalosporinas, trimetropim-sulfametoxazol, levamisol e amiodarona), vacinas vivas modificadas e incompatibilidade em transfusões.


Figura 1 - Aglutinação macroscópica



Figura 2 - Sangue - exame a fresco, 200X



Figura 3 - Sangue - exame a fresco, 1000X



Figura 4 - Esfregaço, 200X (coloração Hemacolor®)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Corpos de Heinz e anemia por dano oxidativo

Os corpos de Heinz foram descritos pela primeira vez em 1890 como estruturas redondas em protusão na superfície dos eritrócitos de humanos e animais. Estas estruturas, que estão associadas a destruição eritrocitária, podem ser encontradas em várias espécies secundariamente a dano oxidativo. As causas mais frequentes de dano oxidativo nas espécies domésticas são a administração de acetaminofeno (Cão/Gato), ingestão de cebola (Cão/Gato) ou alho (Cão), ingestão de propilenoglicol (Gato) e de zinco (Cão). Estão ainda descritas outras causas de aparecimento de corpos de Heinz, tais como hipertiroidismo, linfoma, diabetes mellitus, administração de benzocaína, fenazopiridina, azul de metileno ou vitamina K.

Os corpos de Heinz podem ser identificados em esfregaços corados com colorações do tipo Romanowsky (figura 1), no entanto, a sua identificação fica particularmente facilitada em esfregaços corados com azul de metileno, tal como se pode ver na figura 2. As imagens pertencem a um gato siamês que realizou um hemograma com avaliação do esfregaço sanguíneo no Laboratório INNO.


Figura 1 - Corpos de Heinz corados com Diff-Quick aparecem como protuberâncias à superfície dos eritrócitos.



Figura 2 - Corpos de Heinz corados com novo azul de metileno aparecem como protuberâncias redondas escuras à superfície dos eritrócitos.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O laboratório como aliado nas doenças endócrinas!

* (E a desmistificação das mesmas)


Artigo da autoria de:
Pedro Morais de Almeida, DVM


Sem sintomas não há doença endócrina. Devemos ser criteriosos na escolha de testes endócrinos que pedimos ou mesmo pensar se fará sentido solicitá-los.

No diagnóstico de doenças endócrinas nem sempre o laboratório ou o que nos chega dele, parece ajudar. Muitos de nós já tivemos um paciente que tinha tudo para ser hipotiroideu mas o doseamento hormonal vem normal ou com resultados aparentemente discordantes. Outras vezes são as unidades dos doseamentos que vêm diferentes - pensamos em µg/ dL e vêm em nmol/L -,  intervalos de referência diferentes, conclusões de resultados com as quais nem sempre concordamos; em que tubos enviar, que quantidade, que acondicionamento… enfim muitas dúvidas.

E que teste escolher? Basta estudar com algum detalhe uma doença endócrina para rapidamente nos depararmos com uma panóplia de testes endócrinos. Escolher testes de triagem – triagem é um termo adoptado pela medicina da linguagem de competição automobilística - o que devemos retirar de uma análise dita de triagem tem  uma boa relação custo, praticabilidade, tempo de resposta e sensibilidade/ especificidade. São os testes a escolher numa primeira abordagem e são fiáveis.

Relembrando: sensibilidade é a capacidade de um teste em detectar um paciente com a doença endócrina e especificidade é a capacidade do teste em dar como negativo um animal sem doença. O ideal seria ter um teste 100% sensível e 100% específico. Os testes de triagem tem sensibilidades e especificidades altas.
Análises de triagem:  doseamento de TT4/ TSH no hipotiroidismo;  teste de estimulação com ACTH no hiperadrenocorticismo e hipoadrenocorticismo; TT4 no hipertiroidismo; cálcio ionizado nas hiper e hipocalcemias; IGF-1 na acromegalia e dwarfismo pituitário; aldosterona e renina sérica no hiperaldosteronismo; quociente insulina sérica/ glicose no insulinoma; prova de ADH (DDAVP) na diabetes insípidos; ecografia e pressão arterial em crise no feocromocitoma.

Relativamente à diabetes mellitus: o teste de estimulação com arginina IV usado em medicina humana,  tem elevada sensibilidade para provar a presença de função residual das células beta , mas não nos gatos! Em 2011 apareceu o primeiro  teste ELISA para insulina canina, mas ainda sem valores de referência canina... penso que estes 2 dados são suficientemente esclarecedores de como ante mortem  é impossível saber se há ou não células beta e se temos um diabético tipo I ou II. Em cães diabéticos, mesmo os infiltrados inflamatórios nos ilhéus pancreáticos e os anticorpos  anticélulas beta só aparecem em respectivamente 46% e 50%  dos casos.

Resumindo: cães terão diabetes tipo I (insulinodependentes);  gatos terão diabetes tipo II (insulinoindependentes embora 70% requeiram insulina numa fase inicial) os que  reverterem serão confirmadamente tipo II e os que não reverteram poderão ser tipo I ou II; cães e gatos com história de progestagéneos, glucocorticoides, acromegalia, hiperadrenocorticismo, pancreatite, diestro,  ou seja, doenças que comprovadamente estão associadas a insulinoresistência ou destruição de células beta terão diabetes mellitus tipo III.

Perante um animal muito suspeito de ter doença endócrina com valores normais de testes endócrinos de triagem,  a regra de uma forma geral é que: um valor normal na metade superior do intervalo de referência para doenças hiper e na metade inferior para doenças hipo, não descartam a doença. O que fazer? Testar novamente passadas algumas semanas ou pedir testes complementares.

Durante o tratamento é fundamental a realização de análises para uma monitorização adequada. Relativamente aos doseamentos hormonais a regra passa pelos hipo estarem no limite superior e os hiper no limite inferior de referência.

Os detalhes  importam na realização dos testes endócrinos. Muitas das hormonas respeitam o  ciclo circadiano, pelo que o seu doseamento deverá respeitar algumas regras, como a recolha  ser feita idealmente 4 a 6h após administração do fármaco, como no caso da levotiroxina ou trilostano; a administração de  dexametasona, em vez de metilprednisolona, na crise de hipoadrenocorticismo para não interferir com o teste de estimulação com  ACTH.

Há alterações orgânicas e medicações que interferem em muitos doseamentos hormonais. Devemos lembrar-nos disso, por exemplo, em azotémia, anemia, hemoconcentração, administração de glucocorticóides, fenobarbital,  sulfonamidas e anti-inflamatórios não esteróides.
Algumas raças têm valores fisiológicos fora do intervalo de referência, como o caso dos galgos, com as suas concentrações de hormonas tiroideias tradicionalmente baixas.

Como muitos colegas dizem: as hormonas são um mundo… mas depende de nós simplificá-lo! Realizar protocolos individuais por cada e para cada um de nós (só assim funcionam) para cada doença endócrina poderá ser um caminho.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Diagnóstico de Leishmaniose


 
Artigo da autoria de:
Paula Brilhante Simões, DVM MSc
Diretora Técnica do Laboratório Veterinário INNO
paulabrilhante@inno.pt 


A leishmaniose é uma zoonose transmitida pela Leishmania infantum. O cão é considerado o reservatório mais importante da doença para os humanos.

A sintomatologia apresentada pelos cães inclui febre intermitente, hepatomegália e esplenomegália, lesões de pele, linfoadenomegália local ou generalizada, perda de peso, glomerulopatia, lesões oculares, epistaxis e claudicação. Os animais podem ainda apresentar anemia não regenerativa, leucocitose ou leucopénia, trombocitopénia, hiperglobulinémia, hipoalbuminémia, azotémia renal ou aumento das enzimas hepáticas.

Geralmente, os animais são testados para a doença quando são provenientes ou viajam para países ou áreas endémicas, se vão ser incluídos em bancos de dadores ou ainda para monitorização da resposta a tratamentos. Devido à comercialização recente da vacina contra a leishmaniose, tem-se notado um aumento da solicitação de testes de despiste da doença para descartar animais seropositivos assintomáticos, uma vez que apenas animais seronegativos deverão ser vacinados. Além disso, a existência de um novo protocolo de prevenção, colocado recentemente no mercado português, exige igualmente a realização de um teste ELISA (enzime-linked immunosorbent assay) específico para despiste da doença para início da terapêutica preventiva.

Para um diagnóstico definitivo de leishmaniose é necessária uma abordagem que inclua uma boa história clínica, um bom exame físico associados a exames laboratoriais de rotina (hemograma completo, parâmetros bioquímicos, electroforese proteica e urianálise) e a testes laboratoriais específicos para detecção directa do parasita, do seu DNA ou para detecção de anticorpos.

É importante saber interpretar os resultados dos diversos testes e métodos que existem, assim como conhecer as suas limitações.

Os testes serológicos disponíveis incluem os métodos ELISA, IFI (imunofluorescência indirecta) ou imunocromatografia (testes rápidos) que permitem a detecção de anticorpos; pelo método de PCR (polymerase chain reaction) pesquisa-se o DNA do parasita; para pesquisa das formas amastigotas de Leishmania infantum podem realizar-se a citologia ou a histopatologia, associada ou não a métodos imunohistoquímicos, em diversos órgãos ou tecidos como medula óssea, gânglios, baço ou pele.

De uma forma geral, a leishmaniose em cães pode ser rapidamente diagnosticada por citologia, serologia ou PCR.

Após a infecção com Leishmania, alguns animais mantêm-se seronegativos durante períodos de tempo variáveis, podendo nesta fase de seroconversão a serologia falhar o diagnóstico.

Frequentemente, a questão que se coloca ao clínico é confirmar que os resultados obtidos nos testes realizados e a sintomatologia observada estão relacionados com a leishmaniose e não com outra doença.

Num animal com história e sinais clínicos compatíveis com leishmaniose o primeiro passo poderá ser a citologia dos órgãos ou tecidos e testes serológicos específicos e, conforme os resultados, avançar com outros testes.

Se a identificação citológica do parasita constitui um diagnóstico definitivo de doença, já os resultados negativos neste exame, em animais suspeitos, implicam a realização de testes serológicos. Títulos altos de anticorpos constituem também um diagnóstico definitivo. Se os títulos forem baixos, em animais com lesões cutâneas está indicado exame histológico, imunohistoquimico ou PCR da biopsia de pele, sendo os resultados positivos compatíveis com infecção. O teste de PCR em medula óssea ou gânglios está indicado em animais sem lesões cutâneas. Se estes resultados forem negativos, conclui-se que houve exposição prévia ao parasita, estando os sinais apresentados provavelmente relacionados com outra doença concomitante.
                       
A monitorização da leishmaniose em cães pode ser feita recorrendo aos títulos de anticorpos do animal ou resultados de PCR quantitativo (real-time PCR) conhecidos antes do início do tratamento, assim como usando a electroforese proteica e controlando a evolução clínica com o hemograma e a bioquímica.

Referências

Solano-Gallego L, Koutinas A, Miró G, Cardoso L, Pennisi MG, Ferrer L, Bourdeau P, Oliva G, Baneth G, 2009. Directions for the diagnosis, clinical staging, treatment and prevention of canine leishmaniosis. Vet Parasitol, 165: 1-18.

Paltrinieri S, Solano-Gallego L, Fondati A, Lubas G, Gradoni L, Castagnaro M, Crotti A, Maroli M, Oliva G, Roura X, Zatelli A, Zini E, 2010. Guidelines for diagnosis and clinical classification of leishmaniasis in dogs. JAVMA, June 1, 236-11: 1184-1191.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Diagnóstico de Leishmaniose – Testes ELISA vs IFI

Na altura de escolher o teste para despiste de Leishmaniose, muitos de nós nos perguntamos qual será o melhor método a seleccionar. Actualmente, é possível recorrer a várias técnicas de diagnóstico, cada uma com vantagens e desvantagens. No que toca à escolha entre ELISA e imunofluorescência (IFI), a literatura não é consensual e a IFI foi considerado durante muito tempo como o método “gold, alegando-se vantagens a nível da especificidade e, portanto, na capacidade de gerar menos falsos positivos. Num estudo mais recente em animais experimentalmente infectados, é demonstrado que o ELISA poderá igualar o IFI ao nível da especificidade e ultrapassá-lo ao nível da sensibilidade, sendo portanto capaz de detectar infecções mais precocemente e num maior número de animais. Já o PCR é reservado para estudos de prevalência ou para controlo de tratamentos, quando se visa a eliminação do parasita. 

Resumindo, existe ainda muita variabilidade nos estudos efectuados, tanto nos kits usados como nos métodos “gold” utilizados para os cálculos de sensibilidade e especificidade. Recorrendo à nossa experiência pessoal no uso destas técnicas, os resultados têm sido equiparáveis, não existindo uma vantagem clara de uma técnica sobre a outra, excluindo o facto de o ELISA ser independente do utilizador. Considerando aspectos mais práticos como o preço e o tempo de resposta, no nosso laboratório a IFI tem vantagem por ser uma técnica mais económica e com menor tempo de execução.

Despiste de Toxoplasmose em gatos – risco de saúde pública em mulheres gestantes


       
É uma situação relativamente comum: uma cliente grávida, não imune à toxoplasmose, apresenta-se à consulta para saber se os seus gatos constituem ou não um risco para a sua saúde. Coloca-se então a questão: qual a análise a pedir e como interpretar o resultado? Antes de mais, convém referir que não existe nenhum teste serológico que permita prever se um determinado animal vai ou não excretar oocistos nas fezes. Apesar disso, a realização de uma pesquisa de anticorpos policlonais para a Toxoplasmose é indicativa do estado imunitário do animal. Os gatos que testam negativo estão susceptíveis a infecção e libertação de oocistos nas fezes e, portanto, são mais “perigosos” do ponto de vista serológico. Os animais positivos são mais “seguros” uma vez que a probabilidade de re-excreção em animais imunizados é muito baixa. Paralelamente ao exame sorológico, poder-se-á realizar um exame parasitológico para verificar se existe libertação de oocistos no momento da análise. Em caso positivo, o animal deverá ser colocado em quarentena por um período de 1 a 3 semanas.

Convém sublinhar que grande parte dos casos de toxoplasmose humana se devem devido ingestão de carne mal cozinhada, vegetais mal lavados ou água contaminada pelo que deverão ser tomadas medidas de prevenção higio-sanitárias nesse sentido e não apenas focalizados nos gatos. Ainda de referir que os oocistos demoram 1 a 5 dias a adquirir potencial infectivo, pelo que a eliminação diária das fezes dos gatos por indivíduos imunocompetentes, não gestantes, elimina do ambiente o estadio infectante do parasita.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Doseamento de proBNP


               
O doseamento de proBNP fornece importante informação diagnóstica e prognóstica em doenças cardíacas.

Os péptidos natriuréticos (BNP e ANP) são produzidos e libertados pelo coração, desempenhando um papel importante na regulação do volume e pressão sanguínea. Antagonizam os efeitos do sistema renina-angiotensina (o qual é activado em resposta a uma disfunção miocárdica e isquémia) através da promoção da diurese, natriurese e vasodilatação periférica. O BNP é um péptido natriurérico circulante produzido essencialmente nos ventrículos, sendo libertado pelos miócitos em forma de moléculas precursoras – o proBNP . Estas são depois clivadas por proteases séricas, formando iguais quantidades de C-BNP (fragmentos C activados terminais) e NT-proBNP (fragmento N terminal inactivo). Os fragmentos inactivos têm semi-vidas mais longas e são mais estáveis após colheita e manuseamento, pelo que são os favoritos para serem doseados.

À medida que a doença cardíaca progride e a congestão aumenta, aumenta também a secreção de BNP, que actua diminuindo o volume sanguíneo e pressão venosa. Este mecanismo não consegue, no entanto, sobrepôr-se ao sistema renina-angiotensina, desenvolvendo-se edema evidente com a evolução da doença cardíaca. Isto parece ser devido à diminuição da sensibilidade às acções do BNP com o progredir da doença cardíaca.

Assim, valores aumentados de proBNP são sugestivos de insuficiência e doença cardíaca como cardiomiopatia dilatada e doença degenerativa valvular em cães e cardiomiopatia hipertrófica (CMH) em gatos.

O doseamento de proBNP pode, por outro lado, ser usado em conjunto com o exame físico, radiografias torácicas e eletrocardiografia para diferenciar dispneia de causa respiratória ou insuficiência cardíaca congestiva.

Deste modo, é aconselhada a realização do doseamento de proBNP nas seguintes situações:

  • Em animais com sinais clínicos como: sopro à auscultação cardíaca, arritmias, intolerância ao exercício, letargia, dispneia, mucosas pálidas ou notórios sinais de perfusão diminuída;
  • Todos os casos de suspeita de insuficiência cardíaca congestiva;
  • Para diferenciar doença respiratória de cardíaca;
  • Todas as raças predispostas a doença cardíaca e com sinais clínicos.

O doseamento de proBNP não substitui de todo a recolha de uma boa história clínica, exame físico, radiografias torácicas, eletrocardiograma, ecocardiograma e uma cuidada auscultação por um especialista.


Bibliografia:

Garcia JL. 2012. Plasma BNP as a screening test for occult cardiomyopathy in cats. Veterinary Medicine.
Paige CF, Abbott JA, Elvinger F, Pyle RL. (2009). Prevalence of cardiomyopathy in apparently healthy cats. JAVMA, 234 (11).
Reynolds C, Oyama M. (2008). Biomarkers in the diagnosis of canine heart disease. Veterinary Focus, 18 (3).

segunda-feira, 26 de março de 2012

Leishmaniose canina, a importância do rastreio

Artigo da autoria de:
                          
Luís Cardoso, DVM MSc PhD DipEVPC
Departamento de Ciências Veterinárias, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro;
Parasite Disease Group, Instituto de Biologia Molecular e Celular, Universidade do Porto;
lcardoso@utad.pt



INTRODUÇÃO


A leishmaniose canina (LCan) é uma doença parasitária causada pelo protozoário Leishmania infantum, que ocorre em mais de 50 países dos continentes europeu, africano, asiático e americano. A infecção dos cães com Leishmania é importante não apenas devido ao seu carácter zoonótico e ao papel do cão como reservatório para os seres humanos, mas muito em particular porque a doença representa um problema médico-veterinário emergente. Enquanto processo infeccioso, a LCan constitui exemplo de uma patologia em que o número de casos de infecção assintomática excede o da doença propriamente dita.

Os cães infectados mas assintomáticos podem encontrar-se em período de incubação, vindo a desenvolver a doença mais cedo ou mais tarde; podem ser imunologicamente resistentes ao desenvolvimento de leishmaniose em termos clínicos; ou podem inclusivamente ter estado afectados pela doença e ter recuperado após tratamento. No entanto, os cães infectados com Leishmania podem, mesmo assintomáticos, ser infecciosos para os vectores – insectos flebotomíneos – e contribuir para a manutenção do ciclo epidemiológico do parasita.
                                       
Os cães doentes podem ser alvo de tratamento com diversos fármacos, isoladamente ou em associação, recuperando geralmente em termos clínicos, mas não sendo possível garantir a cura completa dos animais tratados em termos parasitológicos. Com a aplicação nos cães de insecticidas com efeito repelente é possível prevenir a transmissão de Leishmania a partir dos flebótomos infectados [1, 2]. Além disso, foi descrita para uma vacina recentemente introduzida em Portugal elevada eficácia na redução do risco de desenvolvimento de LCan em cães vacinados.

Leishmaniose canina, a importância do rastreio - leishmaniose canina em portugal

                                              
A LCan representa em Portugal uma causa frequente de consulta aos médicos veterinários. A infecção e a doença são comprovadamente endémicas em diversas regiões do país, podendo igualmente ser encontradas de modo esporádico em outras áreas do território continental [3]. Entre Janeiro a Março de 2009, realizou-se a “Semana da Leishmaniose”, um estudo sero-epidemiológico promovido pelo ONLeish (Observatório Nacional das Leishmanioses – www.onleish.org) e pioneiro a nível europeu.
                         
Este trabalho contou com a participação de mais de 130 centros de atendimento médico-veterinário (CAMV) de todos os distritos de Portugal continental e analisou cerca de 4000 cães. A partir de amostras de sangue colhidas em papéis de filtro foi encontrada uma seroprevalência média de 6% de anticorpos para Leishmania através do teste de aglutinação directa (DAT). É de realçar que dos cães seropositivos, mais de 50% não apresentavam sinais clínicos ao exame físico [4]. Os resultados da “Semana da Leishmaniose” sugerem que 110.000 cães, ou mesmo mais, possam estar infectados com Leishmania em Portugal.

Leishmaniose canina, a importância do rastreio - diagnóstico da doença

                                  
O espectro clínico da LCan é variado mas inespecífico, pelo que o diagnóstico requer uma abordagem baseada não só na história clínica e no exame físico mas também em exames complementares, que incluem métodos ou testes para a detecção específica do parasita. Diversos destes últimos estão disponíveis, mas é essencial compreender o fundamento de cada teste diagnóstico, a sua interpretação e as suas eventuais limitações. Nos animais clinicamente suspeitos o diagnóstico da doença é frequentemente alcançado pela evidenciação de formas parasitárias em esfregaços de tecidos, pela detecção de ácidos nucleicos do parasita através da reacção em cadeia da polimerase (PCR), mas sobretudo pela detecção qualitativa ou quantitativa de anticorpos para Leishmania no sangue.
                               
Os títulos altos de anticorpos estão associados a elevada carga parasitária e têm valor diagnóstico. Alguns cães permanecem seronegativos durante períodos variáveis após terem sido infectados com Leishmania. No entanto, devido ao relativamente longo período de incubação, os cães doentes serão muito provavelmente seropositivos. Por outro lado, a presença de baixos títulos de anticorpos não é obrigatoriamente indicadora de infecção, sendo necessário confirmar ou excluir a suspeita de LCan por outros métodos como citologia, histopatologia e/ou PCR.
                                          
Sobretudo em áreas de endemicidade da doença, mas não exclusivamente, os médicos veterinários devem incluir a LCan no diagnóstico diferencial quando os cães apresentam, entre outras, proteinúria renal persistente ou azotemia renal, anemia não-regenerativa, leucocitose ou leucopenia, hiperproteinemia sérica, hiperglobulinemia policlonal gama ou beta, hipo-albuminemia ou actividade aumentada das enzimas hepáticas [5].

Leishmaniose canina, a importância do rastreio - rastreio da infecção

A pesquisa de anticorpos para Leishmania em amostras de soro é o método mais simples e tem sido o mais utilizado para determinar a prevalência de infecção em populações caninas. Uma limitação da serologia é a impossibilidade de se diagnosticar a infecção durante o período de seroconversão. Não obstante, estudos longitudinais indicam que os cães naturalmente infectados seroconvertem no decurso da infecção.

A nível individual, está previsto que cães clinicamente assintomáticos devam ser testados serologicamente para a presença de infecção por Leishmania se foram importados de um país ou de uma área em que a LCan é endémica ou se vão viajar para estes locais, se servem como dadores de sangue ou se os seus donos desejam saber do estado do animal relativamente a uma possível infecção precoce e à possibilidade de desenvolverem a doença. É de referir que o protocolo de aplicação da vacina contra a LCan disponível no mercado português só deve ser iniciado em cães seronegativos.

Um título crescente de anticorpos pode indicar que um cão, mesmo assintomático, vai desenvolver LCan. A detecção precoce da infecção e da possível doença é benéfica para o animal, pois permite a instituição atempada de terapia, que vai evitar, ou pelo menos minorar, o desenvolvimento de manifestações clínicas. Assim sendo, os cães assintomáticos que vivem em áreas em que a leishmaniose é endémica deveriam ser avaliados periodicamente a intervalos de 6 a 12 meses, para a detecção precoce de uma eventual infecção. Os cães seropositivos assintomáticos devem ser tratados ou seguidos de acordo com o título de anticorpos. Os cães com títulos altos devem receber medicação anti-Leishmania. Os cães seropositivos confirmados com baixo títulos de anticorpos devem ser seguidos através de exame físico, exames complementares (hemograma, bioquímica sérica e urianálise) e testes serológicos, com a regularidade de 3 a 6 meses para se avaliar como progride a infecção. Se o seu título aumentar significativamente estes animais devem ser tratados.

Os cães aparentemente saudáveis de áreas em que a LCan é endémica devem ser rastreados para a presença de ADN de Leishmania apenas se se destinam a exportação, se são dadores de sangue, se são animais de companhia de pessoas imunodeprimidas ou se fazem parte de certos estudos epidemiológicos. De outro modo, para rastreio de cães saudáveis deve-se recorrer à PCR combinada com serologia ou apenas à serologia. Os cães clinicamente saudáveis com PCR positiva e seronegativos devem ser avaliados serologicamente a intervalos de 6 a 12 meses, para se averiguar de uma possível seroconversão. Apesar de o tratamento não ser recomendado nestes casos, estes animais devem ser alvo de medidas profilácticas com insecticidas repelentes, tal como acontece com os outros infectados [6].

Leishmaniose canina, a importância do rastreio - notas finais

A quantificação de anticorpos para Leishmania e a avaliação de parâmetros clinicopatológicos são também úteis ao acompanhamento de cães tratados. Para uma comparação mais fiável dos títulos de anticorpos ao longo do tempo, será conveniente testar as diversas amostras do mesmo animal sob as mesmas condições laboratoriais. A redução de anticorpos específicos em dois ou mais títulos pode ser considerada significativa. Pelo contrário, um aumento considerável do título de anticorpos deve ser interpretado como possível indicador de recaída ou recorrência.
                                
                 
ONLeish e LEISHnet
                  
               
O ONLeish (Observatório Nacional das Leishmanioses – www.onleish.org) foi criado no ano de 2008, por iniciativa de um conjunto de médicos veterinários, médicos e outros investigadores portugueses. Entre os seus objectivos contam-se desenvolver colaboração estreita entre profissionais de saúde, aumentar o conhecimento sobre as leishmanioses animal e humana, e esclarecer e sensibilizar os donos de cães e a população em geral, de modo a que mais efectivamente possam ser postas em prática medidas profilácticas contra a infecção por Leishmania [7]. Além da “Semana da Leishmaniose”, levada a cabo em 2009, o ONLeish criou e mantém em funcionamento uma rede de vigilância epidemiológica da LCan – a LEISHnet – que está a desenvolver uma base de dados sobre casos clínicos de LCan diagnosticados em Portugal. Quando requisitam testes para Leishmania a um laboratório de análises clínicas veterinárias (LACV) associado, os CAMV preenchem uma ficha desenvolvida pela LEISHnet. Os LACV remetem depois essas fichas com os resultados à LEISHnet. O primeiro relatório regular da LEISHnet foi publicado em 2011 [8]. O ONLeish e a LEISHnet contam com o patrocínio da Intervet-Schering-Plough Animal Health®, Portugal.                               
                
                                                            
REFERÊNCIAS
                                                               
                                                            
[1] Cardoso L, 2006. Current knowledge on the parasitology and prevention of canine leishmaniosis. Bayer Pre-Congress Symposium, ESVD/ECVD, Lisboa. Proceedings, p. 6-15.
                              
[2] Cardoso L, 2010. Dogs, arthropod-transmitted pathogens and zoonotic diseases. Trends Parasitol, 26: 61-62.
                                 
[3] Cardoso L, 2008. Epidemiologia local de leishmaniose – Epidemiologia da leishmaniose canina em Portugal. Fórum Ciência Merial, Tomar.
                                
[4] Maia C, Campino L, Marques M, Cristóvão J, Ramada J, Neves R, Cardoso L, Cortes S, 2009. “A semana da leishmaniose” – ONLeish. Resultados preliminares. Acta Parasitol Port, 16: 22-23.
                                
[5] Solano-Gallego L, Koutinas A, Miró G, Cardoso L, Pennisi MG, Ferrer L, Bourdeau P, Oliva G, Baneth G, 2009. Directions for the diagnosis, clinical staging, treatment and prevention of canine leishmaniosis. Vet Parasitol, 165: 1-18.
                            
[6] Solano-Gallego L, Miró G, Koutinas A, Cardoso L, Pennisi MG, Ferrer L, Bourdeau P, Oliva G, Baneth G, 2009. LeishVet guidelines for the practical management of canine leishmaniosis. Parasit Vectors, 4: 86.
                      
[7] Campino L, Cardoso L, Brito MT, Carvalho LM, Afonso MO, Maurício I, Neves R, Maia C, 2009. Observatório Nacional das Leishmanioses – ONLeish em 2009. Acta Parasitol Port, 16: 24-25.
                            
[8] ONLeish, 2011. Primeiro relatório regular da LEISHnet. Vet Med, Janeiro/Fevereiro: 22-26.

domingo, 18 de março de 2012

Espalhamento de amostras citológicas

Existe uma ideia mais ou menos difundida de não ser necessário fazer o espalhamento da amostra citológica na lâmina. É um erro!
                               
A observação microscópica das amostras citológicas coradas com colorações do tipo Romanowski tem que ser feita em zonas de monocamada onde as células se encontram justapostas. Uma célula em zona concentrada ou de multicamada encontra-se globosa e o núcleo mostra uma cromatina muito condensada, impedindo a observação dos pormenores nucleares, o que poderá erradamente sugerir alteração neoplásica; também o citoplasma se apresenta geralmente muito mais basófilo.
                            
O espalhamento da amostra pode ser feito com diferentes técnicas como o ‘squash’
                                        

Adaptado de ’Diagnostic Cytology and Hematology of the Dog and Cat’, Cowell, 2008

 


Com amostras mais líquidas pode usar-se a técnica de espalhamento do esfregaço sanguíneo.
                                

Adaptado de ’Diagnostic Cytology and Hematology of the Dog and Cat’, Cowell, 2008


                   
NOTA: a amostra aspirada deve ser colocada próximo da lâmina para evitar que a amostra seja aspergida e consequentemente chegue à lâmina sob a forma de pequenas gotículas que secam no momento de contacto com o vidro e por isso não possa ser espalhada. 

Amostra para estudo de líquido cefalorraquidiano


                                                              
Para estudo de líquido cefalorraquidiano (LCR) é necessário: 
  • LCR em tubo EDTA para contagem celular e citologia;
  • LCR em tubo seco para medição das proteínas totais, outros parâmetros bioquímicos e serologias;
  • LCR num 3º tubo seco, em caso de se pretender uma cultura microbiana.
Deve ser ainda enviado um tubo seco com sangue para obtenção de soro, necessário na preparação da citologia.

Amostra para estudo de efusão

Para estudo de efusões é necessário colocar a amostra:

  • Em tubo EDTA, que evita, por um lado, que amostras que possuam elevado teor em fibrina coagulem e, por outro, ajuda a preservar as células;
  • Em tubo seco, para a realização de provas bioquímicas, como por exemplo, as proteínas, albumina (importante no diagnóstico de PIF), creatinina (importante no diagnóstico de uroperitoneu), triglicerídeos (importante no diagnóstico de quilo), provas microbiológicas ou serológicas de doenças infecciosas.

Babesiose em cães devida ao piroplasma pequeno canino Babesia microti-like - primeiro caso descrito em Portugal com possível transmissão vertical


Paula B Simões1, Luís Cardoso3,2, Manuela Araújo1, Yael Yisaschar-Mekuzas4 and Gad Baneth4
1Laboratórios Veterinários INNO, Braga, Portugal
2Department of Veterinary Sciences, University of Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal
3Parasite Disease Group, Instituto de Biologia Molecular e Celular, Universidade do Porto, Portugal
4School of Veterinary Medicine, Hebrew University of Jerusalem, Rehovot, Israel
                                                  

                                                                 
Resumo      

Introdução
A babesiose canina (ou piroplasmose) é endémica no Norte de Portugal, mas não há registo de casos de infecção com piroplasmas pequenos molecularmente confirmados no país. Três cães pastores alemães - uma cadela e a sua cria de dois meses e um macho sem ligação de parentesco - com suspeita clínica de piroplasmose foram testados para a infecção Babesia spp. 

Resultados
A doença parasitária causada pelos piroplasmas pequenos foi detectada, microscopicamente, em dois cães. Na PCR, os três cães apresentaram resultado positivo e o pequeno piroplasma Babesia microti-like (syn. Theileria annae) foi identificado através da sequenciação do ADN. Estes são os primeiros casos confirmados de Babesiose por piroplasma de Babesia microti-like, tanto em cães de Portugal como em cães com suspeita clínica de piroplasmose fora de Espanha. 
                                                   
Conclusão
Apesar da cadela e do macho terem estado na vizinha Galiza (noroeste de Espanha), onde a doença é endémica, a incursão deste piroplasma no Norte de Portugal é evidente e a infecção da cria que não viajou deveu-se a transmissão vertical ou a infecção por carraça autóctone.
                         
                            
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