sábado, 17 de novembro de 2012

Coronavírus felino e peritonite infecciosa felina

A Peritonite Infecciosa Felina (PIF) é uma doença imunomediada fatal causada por estirpes mutantes do Coronavirus felino (FCoV). Ocorre em gatos domésticos e selvagens, geralmente com menos de 3 anos, sendo por isso uma das mais importantes causas de morte em animais jovens. Pensa-se que estas formas mutantes do FCoV não são libertadas via fecal, mas que estão contidas nas localizações anatómicas afetadas (nas efusões ou órgãos em caso de PIF seca). A mutação ocorre no gene 3c do vírus o qual codifica uma pequena proteína de função desconhecida; a perda deste gene não impede a replicação do vírus in vivo ou in vitro, no entanto, altera drasticamente o seu tropismo celular, inibindo a sua interiorização e replicação nos macrófagos.

A maioria dos gatos infectados com FCoV não desenvolve PIF. No geral, existem 4 possíveis desfechos após exposição ao vírus:

  1. Apenas 5-10% desenvolvem PIF;
  2. A maioria excretam o vírus via fecal durante um tempo, desenvolvem anticorpos e param a excreção ao mesmo tempo que o título de anticorpos volta a zero. 58% das excreções do vírus ocorre durante um mês e 95% duram menos de 9 meses;
  3. 13% tornam-se portadores para toda a vida, excretando continuamente o vírus nas fezes. A maioria permanece saudável, enquanto que alguns desenvolvem diarreia crónica;
  4. 4% dos gatos aparentam ser completamente resistentes à infecção por FCoV, não excretando o vírus e tendo uma quase indetectável titulação de anticorpos.

Não existe um teste único comercialmente disponível para diagnosticar PIF, sendo a imunohistoquímica de efusões ou lesões considerado o gold standard. Os diferentes testes disponíveis para ajudar ao diagnóstico de PIF incluem:

  • Ac de FCoV no soro (especialmente útil em casos de PIF não efusivo, uma vez que apresentam títulos mais altos e são raramente negativos);
  • RT-PCR de FCoV em sangue EDTA (aconselhado em PIF não efusivo e em fases febris) ou em líquidos de efusão (o indicado para PIF efusivo);
  • Detecção de antigénio por imunohistoquímica em efusões ou tecidos biopsiados. Neste caso é necessária biópsia prévia para detectar as lesões com macrófagos infectados, sobre as quais se realizará a imunohistoquímica. As lesões de PIF não efusivo são frequentemente encontradas nos rins, linfonodos mesentéricos e, menos frequentemente, no fígado e linfonodos hepáticos;
  • Alfa 1 glucoproteína ácida (em soro); apesar de ser não específica para PIF, é uma proteína de fase aguda que, em casos de PIF, é geralmente >1500ug/mL (valores que a permitem distinguir de outras condições não inflamatórias clinicamente semelhantes a PIF).

Os testes serológicos devem apenas ser realizados em conjunto com uma história clínica compatível com PIF e após a pesquisa na efusão ou sangue de globulinas aumentadas e rácio A:G baixo. Só deste modo, os testes serológicos são úteis para gatos com suspeita de PIF, no entanto, apresentam limitações. Em primeiro lugar, muitos gatos saudáveis ou com outras condições para além de PIF podem ser seropositivos (biotipo entérico do FCoV). Em segundo lugar, alguns gatos com PIF efusivo podem apresentar títulos baixos ou serem mesmo negativos, uma vez que a grande quantidade de vírus presente está ligada a anticorpos, não estando disponível para se ligar ao antigénio do teste serológico. Pelo que, gatos seronegativos com suspeita de PIF efusiva devem ser examinados para a presença do vírus na efusão através do método PCR.

Apesar de o título de anticorpos não ser capaz de predizer se o animal desenvolveu PIF, reflete, no entanto, a carga viral do animal. Alguns autores sugerem que quanto maior a carga viral, maior a possibilidade de ocorrerem as mutações responsáveis pelo desenvolvimento de PIF.

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