quarta-feira, 2 de março de 2016

Elevada precisão diagnóstica na peritonite infeciosa felina a partir da contagem de células nucleadas em efusões na Sysmex XT-2000iV


A peritonite infeciosa felina (PIF) é uma doença infeciosa letal causada pelo coronavírus felino (FCoV), que desencadeia uma excessiva resposta imune em gatos infetados com as variantes virais que sofrem mutações.1 O diagnóstico ante-mortem constitui sempre um desafio, especialmente na forma não efusiva (“seca”), devido à variabilidade de sinais clínicos e à baixa especificidade dos meios complementares de diagnóstico. Entre estes, a eletroforese das proteínas séricas (proteinograma) e a medição da alfa-glicoproteína (AGP) podem apoiar a suspeita clínica da doença.2-6 Contudo, nenhum destes testes fornece diagnóstico definitivo.2

Por outro lado, a forma efusiva (“húmida”) é mais fácil de diagnosticar, tendo por base a história e exame clínico, análises bioquímicas, e em especial, a análise de efusão. Macroscopicamente, as efusões típicas de PIF apresentam cor amarela, de aspeto turvo e viscoso, contendo por vezes coágulos de fibrina. O teor em proteína é geralmente elevado com diminuições marcadas do rácio albumina/globulina.7 As contagens celulares variam entre 2-6 x 109/L, até contagens superiores a 30 x 109/L8, sendo que citologicamente são encontrados principalmente neutrófilos degenerados, macrófagos, linfócitos e raros plasmócitos.1 O teste de Rivalta foi recentemente proposto como teste de alta precisão diagnóstica de PIF.9 Embora seja uma prova de fácil execução, geralmente utilizada para diferenciar transudados de exsudados, uma reação positiva deve-se à elevada concentração de proteínas, entre as quais fibrinogénio e outras proteínas de fase aguda, que são componentes abundantes em efusões de PIF, mas também em efusões por peritonite bacteriana, pleurite e linfoma.9

Assim estudaram-se efusões peritoneais felinas em 51 casos (20 com PIF e 31 sem PIF) e demonstrou-se que valor de ΔTCN, definido como rácio entre as contagens leucocitárias obtidas nos dois canais (DIFF/BASO), do equipamento de hemocitometria de fluxo Sysmex XT-2000iV, encontra-se aumentado em efusões peritoneais nos casos de peritonite infeciosa felina (PIF). O reagente do canal BASO promove a precipitação proteica com consequente aprisionamento celular devido à formação de microcoágulos de fibrina, sendo que estes coágulos aprisionam os leucócitos levando a uma menor contagem celular face à contagem do canal DIFF. Desta forma é possível obter uma elevada precisão diagnóstica em casos de PIF, com uma sensibilidade de 90% e especificidade de 93.53%. Valores ΔTCN>2.5 apresentam especificidade diagnóstica de 100%.2-10 (Veterinary Clinical Pathology 44/2 (2015) 295–302, American Society for Veterinary Clinical Pathology)


1. Pedersen NC. A review of feline infectious peritonitis virus infection: 1963-2008. J Feline Med Surg. 2009;11:225–258.
2. Hartmann K, Binder C, Hirschberger J, et al. Comparison of different tests to diagnose feline infectious peritonitis. J Vet Intern Med. 2003;17:781–790.
3. Paltrinieri S, Giordano A, Tranquillo V, Guazzetti S. Critical assessment of the diagnostic value of a1.acid glycoprotein for feline infectious peritonitis using the likelihood ratios approach. J Vet Diagn Invest. 2007;19:266–272.
4. Giori L, Giordano A, Giudice C, Grieco V, Paltrinieri S. Performances of different diagnostic tests for feline infectious peritonitis in challenging clinical cases. J Small Anim Pract. 2011;52:152–157.
5. Addie DD, Bel_ak S, Boucraut-Baralon C, et al. Feline Infectious Peritonitis. ABCD Guidelines on prevention and management. J Feline Med Surg. 2009;11:594–604.
6. Duthie S, Eckersall PD, AddieDD, Lawrence CE, JarretO. Value of a-1-acid glycoprotein in the diagnosis of feline infectious peritonitis. Vet Rec. 1997;141:299–303.
7. Shelly SM, Scarlett-Kranz J, Blue JT. Protein electrophoresis on effusions from cats as a diagnostic test for feline infectious peritonitis. J Am Anim Hosp Assoc. 1988;24:495–500.
8. Dempsey SM, Ewing PJ. A review of the pathofisiology, classification, and analysis of canine and feline cavitary effusions. J AmAnim Hosp Assoc. 2011;47:1–11.
9. Fischer Y, Sauter-Louis C, Hartmann K. Diagnostic accuracy of the Rivalta test for feline infectious peritonitis. Vet Clin Pathol. 2012;41:558–567.
10. Sakai N, Iijima S, Shiba K. Reinvestigation of clinical value of Rivalta reaction of puncture fluid. Rinsho Byori. 2004;52:877–882.

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