quinta-feira, 28 de julho de 2016

Hipo ou Hipertiroidismo? Desmistificar a T4 Livre e T4 Livre por Equilíbrio de Diálise

Artigo da autoria de:
Ricardo Lopes, DVM MSc; Augusto Silva, DVM; Paula Brilhante Simões, DVM MSc
Laboratório Veterinário INNO

geral@inno.pt


A função da glândula tiroide é tipicamente avaliada pela medição da concentração dos níveis séricos das suas hormonas. Avaliar a capacidade de resposta da glândula tiroide à sua estimulação (p. ex. Teste de Estimulação com TSH) é considerado o teste gold standard no diagnóstico definitivo de disfunção tiroidea, contudo é raramente realizado na prática clínica devido aos elevados custos da TSH recombinante. Desta forma estão disponíveis testes que incluem a medição de T4, T4 livre (fT4), T3 livre (fT3) e 3,3’,5’triiodotironina (rT3), bem como a medição da concentração de TSH (1-7).

A tiroxina (T4) é a principal hormona secretada pela glândula tiroide. Uma vez em circulação, mais de 99% encontra-se ligada a proteínas plasmáticas. Apenas a sua porção livre, T4 livre (fT4) é biologicamente ativa, exercendo inibição por feedback negativo na secreção de TSH pituitária (7).

A tiroxina livre (fT4), como fração biologicamente ativa da tiroxina (T4), fornece informação mais precisa sobre a função da glândula tiroide do que a tiroxina sérica total (TT4) ou a triiodotironina (T3) (4)(7).

Diversas metodologias estão disponíveis para a medição de T4 livre (fT4) no soro. Embora a técnica gold standard para medição de tiroxina livre seja por equilíbrio de diálise, esta é uma técnica dispendiosa e morosa, uma vez que requer um processamento de vários dias, sendo quase exclusivamente realizada em laboratórios de investigação. Nos laboratórios comerciais, as medições de fT4 realizadas por equilíbrio de diálise têm por base técnicas de diálise modificadas (MED), nas quais as frações de tiroxina livre são isoladas, seguindo-se a sua medição, por técnicas de radioimunoensaio (RIA) ou quimiluminescência (1-8).

Estudos recentes (2-3)(9) demonstraram que a precisão diagnóstica das técnicas de medição de T4 livre por equilíbrio de diálise modificada (MED) variaram entre 86-93%, quando comparadas com técnicas comercialmente disponíveis para medição de T4 total, as quais apresentam precisão diagnóstica de 75-85% (2-3)(7).

Contudo, a maioria das técnicas de diálise utilizadas estão otimizadas para medicina humana, tendo por isso precisão diagnóstica pouco diferente da T4 total, e em alguns casos até menor, devido à especificidade da técnica e a variações do peso molecular proteico entre as diferentes espécies. Desta forma existem alternativas diagnósticas mais eficientes e específicas na medição de T4 livre (fT4) (3-8).

Com a necessidade diagnóstica específica em medicina veterinária, foi desenvolvida uma técnica inovadora para medição da T4 livre, o imunoensaio por quimiluminescência (CLIA), disponível apenas num dos equipamentos de endocrinologia mais sofisticados do mercado, o IMMULITE 2000® - Siemens Healthcare Diagnostics Products Ltd., Llanberis, Gweynedd, UK (9).

Neste equipamento a medição da T4 livre específica (VfT4) apresenta sensibilidade de 80% e 87%, especificidade de 97% e 100% e precisão diagnóstica de 89%, para caninos e felinos, respetivamente, conforme pode ser verificado na Tabela 1 (2)(7).


Esta técnica inovadora permite a medição de tiroxina livre (fT4) com uma precisão diagnóstica igual ou superior às técnicas de equilíbrio diálise padrão, em poucas horas, com volumes substancialmente menores de soro e consideravelmente menos dispendiosa (2)(7).

Embora a circulação de anticorpos anti-tiróideos não interfira com os resultados determinados pelas técnicas MED, a interferência com a técnica de imunoensaio por quimiluminescência (CLIA) é residual na medição de tiroxina livre específica (VfT4), o que não acontece com as restantes técnicas, nomeadamente por radioimunoensaio (RIA) (3).
Em suma, a precisão diagnóstica desta nova técnica, com recurso ao equipamento IMMULITE 2000®, Siemens Healthcare Diagnostics Products Ltd. é equiparável às técnicas mais avançadas de diagnóstico na disfunção tireóidea. Permitindo a mensuração da concentração de T4 livre (fT4) com uma sensibilidade, especificidade e precisão semelhantes ou superiores ao equilíbrio de diálise, tendo demonstrado ser um método inovador e de excelência, disponível como análise endocrinológica de rotina, para pacientes felinos e caninos (1-4)(7).


Precisão de Determinação de Tiroxina Livre por
Imunoensaio por Quimioluminescência Vs. Diálise de Equilíbrio
Técnica
Sensibilidade (%)
Especificidade (%)
Precisão (%)
Gatos*
Cães#
Gatos*
Cães#
Gatos*
Cães#
VfT4
87%
80%
100%
97%
89%
89%
fT4EDIVD
87%
92%
100%
90%
89%
91%
fT4EDAN
92%
71%
67%
100%
89%
86%
DfT4
89%
96%
100%
90%
91%
93%

Legenda: Immulite 2000® Veterinary Free T4 (VfT4) (Siemens Health Care Diagnostics). T4 Livre Direta por Equilíbrio de Diálise (fT4EDIVD) (IVD Tecnhologies, Santa Ana, CA, USA). T4 Livre por Equilíbrio de Diálise (fT4EDan) (Antech Diagnostics, Irvine, CA, USA). T4 Livre GamaCoatTM por radioimunoensaio (RIA) (DfT4) (Diasorin Inc).
*Estudo realizado num universo de 98 felinos, 53 clinicamente saudáveis e 45 com hipertiroidismo clínico 9
**Estudo realizado num universo de 56 caninos com sinais clínicos de hipotiroidismo, 31 eutiróides e 25 hipotiróides 2


Bibliografia consultada

1- Ferguson DC (2007). Testing for hypothyroidism in dogs, Vet Clin Small Anim 37:647.
2- Scott-Moncrieff JCR, et al. (2011). Accuracy of serum free thyroxine concentrations determined by a new veterinary chemiluminescent immunoassay in euthyroid and hypothyroid dogs, J Vet Intern Med 25:1493
3- Randolph JF, et al. (2015). Free thyroxine concentrations by equilibrium dialysis and chemiluminescent immunoassays in 13 hypothyroid dogs positive for thyroglobulin antibody, J Vet Intern Med 29:877–881
4- Feldman EC, Nelson RW, eds (2004). Canine and Feline Endocrinology and Reproduction, 3rd ed. St. Louis, MO: Saunders 85–151
5- Shiel RE, et al.(2007a). Thyroid hormone concentrations in young healthy pretraining greyhounds, Vet Rec 161:616.
6- Pinilla M, et al. (2009). Quantitative thyroid scintigraphy in greyhounds suspected of primary hypothyroidism, Vet Radiol Ultrasound 50(2):224
7- Feldman DC, et al. (2015). Canine & Feline Endocrinology, 4th ed. St. Louis, Saunders 97-107

quarta-feira, 2 de março de 2016

Elevada precisão diagnóstica na peritonite infeciosa felina a partir da contagem de células nucleadas em efusões na Sysmex XT-2000iV


A peritonite infeciosa felina (PIF) é uma doença infeciosa letal causada pelo coronavírus felino (FCoV), que desencadeia uma excessiva resposta imune em gatos infetados com as variantes virais que sofrem mutações.1 O diagnóstico ante-mortem constitui sempre um desafio, especialmente na forma não efusiva (“seca”), devido à variabilidade de sinais clínicos e à baixa especificidade dos meios complementares de diagnóstico. Entre estes, a eletroforese das proteínas séricas (proteinograma) e a medição da alfa-glicoproteína (AGP) podem apoiar a suspeita clínica da doença.2-6 Contudo, nenhum destes testes fornece diagnóstico definitivo.2

Por outro lado, a forma efusiva (“húmida”) é mais fácil de diagnosticar, tendo por base a história e exame clínico, análises bioquímicas, e em especial, a análise de efusão. Macroscopicamente, as efusões típicas de PIF apresentam cor amarela, de aspeto turvo e viscoso, contendo por vezes coágulos de fibrina. O teor em proteína é geralmente elevado com diminuições marcadas do rácio albumina/globulina.7 As contagens celulares variam entre 2-6 x 109/L, até contagens superiores a 30 x 109/L8, sendo que citologicamente são encontrados principalmente neutrófilos degenerados, macrófagos, linfócitos e raros plasmócitos.1 O teste de Rivalta foi recentemente proposto como teste de alta precisão diagnóstica de PIF.9 Embora seja uma prova de fácil execução, geralmente utilizada para diferenciar transudados de exsudados, uma reação positiva deve-se à elevada concentração de proteínas, entre as quais fibrinogénio e outras proteínas de fase aguda, que são componentes abundantes em efusões de PIF, mas também em efusões por peritonite bacteriana, pleurite e linfoma.9

Assim estudaram-se efusões peritoneais felinas em 51 casos (20 com PIF e 31 sem PIF) e demonstrou-se que valor de ΔTCN, definido como rácio entre as contagens leucocitárias obtidas nos dois canais (DIFF/BASO), do equipamento de hemocitometria de fluxo Sysmex XT-2000iV, encontra-se aumentado em efusões peritoneais nos casos de peritonite infeciosa felina (PIF). O reagente do canal BASO promove a precipitação proteica com consequente aprisionamento celular devido à formação de microcoágulos de fibrina, sendo que estes coágulos aprisionam os leucócitos levando a uma menor contagem celular face à contagem do canal DIFF. Desta forma é possível obter uma elevada precisão diagnóstica em casos de PIF, com uma sensibilidade de 90% e especificidade de 93.53%. Valores ΔTCN>2.5 apresentam especificidade diagnóstica de 100%.2-10 (Veterinary Clinical Pathology 44/2 (2015) 295–302, American Society for Veterinary Clinical Pathology)


1. Pedersen NC. A review of feline infectious peritonitis virus infection: 1963-2008. J Feline Med Surg. 2009;11:225–258.
2. Hartmann K, Binder C, Hirschberger J, et al. Comparison of different tests to diagnose feline infectious peritonitis. J Vet Intern Med. 2003;17:781–790.
3. Paltrinieri S, Giordano A, Tranquillo V, Guazzetti S. Critical assessment of the diagnostic value of a1.acid glycoprotein for feline infectious peritonitis using the likelihood ratios approach. J Vet Diagn Invest. 2007;19:266–272.
4. Giori L, Giordano A, Giudice C, Grieco V, Paltrinieri S. Performances of different diagnostic tests for feline infectious peritonitis in challenging clinical cases. J Small Anim Pract. 2011;52:152–157.
5. Addie DD, Bel_ak S, Boucraut-Baralon C, et al. Feline Infectious Peritonitis. ABCD Guidelines on prevention and management. J Feline Med Surg. 2009;11:594–604.
6. Duthie S, Eckersall PD, AddieDD, Lawrence CE, JarretO. Value of a-1-acid glycoprotein in the diagnosis of feline infectious peritonitis. Vet Rec. 1997;141:299–303.
7. Shelly SM, Scarlett-Kranz J, Blue JT. Protein electrophoresis on effusions from cats as a diagnostic test for feline infectious peritonitis. J Am Anim Hosp Assoc. 1988;24:495–500.
8. Dempsey SM, Ewing PJ. A review of the pathofisiology, classification, and analysis of canine and feline cavitary effusions. J AmAnim Hosp Assoc. 2011;47:1–11.
9. Fischer Y, Sauter-Louis C, Hartmann K. Diagnostic accuracy of the Rivalta test for feline infectious peritonitis. Vet Clin Pathol. 2012;41:558–567.
10. Sakai N, Iijima S, Shiba K. Reinvestigation of clinical value of Rivalta reaction of puncture fluid. Rinsho Byori. 2004;52:877–882.
 

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