terça-feira, 18 de setembro de 2012

O laboratório como aliado nas doenças endócrinas!

* (E a desmistificação das mesmas)


Artigo da autoria de:
Pedro Morais de Almeida, DVM


Sem sintomas não há doença endócrina. Devemos ser criteriosos na escolha de testes endócrinos que pedimos ou mesmo pensar se fará sentido solicitá-los.

No diagnóstico de doenças endócrinas nem sempre o laboratório ou o que nos chega dele, parece ajudar. Muitos de nós já tivemos um paciente que tinha tudo para ser hipotiroideu mas o doseamento hormonal vem normal ou com resultados aparentemente discordantes. Outras vezes são as unidades dos doseamentos que vêm diferentes - pensamos em µg/ dL e vêm em nmol/L -,  intervalos de referência diferentes, conclusões de resultados com as quais nem sempre concordamos; em que tubos enviar, que quantidade, que acondicionamento… enfim muitas dúvidas.

E que teste escolher? Basta estudar com algum detalhe uma doença endócrina para rapidamente nos depararmos com uma panóplia de testes endócrinos. Escolher testes de triagem – triagem é um termo adoptado pela medicina da linguagem de competição automobilística - o que devemos retirar de uma análise dita de triagem tem  uma boa relação custo, praticabilidade, tempo de resposta e sensibilidade/ especificidade. São os testes a escolher numa primeira abordagem e são fiáveis.

Relembrando: sensibilidade é a capacidade de um teste em detectar um paciente com a doença endócrina e especificidade é a capacidade do teste em dar como negativo um animal sem doença. O ideal seria ter um teste 100% sensível e 100% específico. Os testes de triagem tem sensibilidades e especificidades altas.
Análises de triagem:  doseamento de TT4/ TSH no hipotiroidismo;  teste de estimulação com ACTH no hiperadrenocorticismo e hipoadrenocorticismo; TT4 no hipertiroidismo; cálcio ionizado nas hiper e hipocalcemias; IGF-1 na acromegalia e dwarfismo pituitário; aldosterona e renina sérica no hiperaldosteronismo; quociente insulina sérica/ glicose no insulinoma; prova de ADH (DDAVP) na diabetes insípidos; ecografia e pressão arterial em crise no feocromocitoma.

Relativamente à diabetes mellitus: o teste de estimulação com arginina IV usado em medicina humana,  tem elevada sensibilidade para provar a presença de função residual das células beta , mas não nos gatos! Em 2011 apareceu o primeiro  teste ELISA para insulina canina, mas ainda sem valores de referência canina... penso que estes 2 dados são suficientemente esclarecedores de como ante mortem  é impossível saber se há ou não células beta e se temos um diabético tipo I ou II. Em cães diabéticos, mesmo os infiltrados inflamatórios nos ilhéus pancreáticos e os anticorpos  anticélulas beta só aparecem em respectivamente 46% e 50%  dos casos.

Resumindo: cães terão diabetes tipo I (insulinodependentes);  gatos terão diabetes tipo II (insulinoindependentes embora 70% requeiram insulina numa fase inicial) os que  reverterem serão confirmadamente tipo II e os que não reverteram poderão ser tipo I ou II; cães e gatos com história de progestagéneos, glucocorticoides, acromegalia, hiperadrenocorticismo, pancreatite, diestro,  ou seja, doenças que comprovadamente estão associadas a insulinoresistência ou destruição de células beta terão diabetes mellitus tipo III.

Perante um animal muito suspeito de ter doença endócrina com valores normais de testes endócrinos de triagem,  a regra de uma forma geral é que: um valor normal na metade superior do intervalo de referência para doenças hiper e na metade inferior para doenças hipo, não descartam a doença. O que fazer? Testar novamente passadas algumas semanas ou pedir testes complementares.

Durante o tratamento é fundamental a realização de análises para uma monitorização adequada. Relativamente aos doseamentos hormonais a regra passa pelos hipo estarem no limite superior e os hiper no limite inferior de referência.

Os detalhes  importam na realização dos testes endócrinos. Muitas das hormonas respeitam o  ciclo circadiano, pelo que o seu doseamento deverá respeitar algumas regras, como a recolha  ser feita idealmente 4 a 6h após administração do fármaco, como no caso da levotiroxina ou trilostano; a administração de  dexametasona, em vez de metilprednisolona, na crise de hipoadrenocorticismo para não interferir com o teste de estimulação com  ACTH.

Há alterações orgânicas e medicações que interferem em muitos doseamentos hormonais. Devemos lembrar-nos disso, por exemplo, em azotémia, anemia, hemoconcentração, administração de glucocorticóides, fenobarbital,  sulfonamidas e anti-inflamatórios não esteróides.
Algumas raças têm valores fisiológicos fora do intervalo de referência, como o caso dos galgos, com as suas concentrações de hormonas tiroideias tradicionalmente baixas.

Como muitos colegas dizem: as hormonas são um mundo… mas depende de nós simplificá-lo! Realizar protocolos individuais por cada e para cada um de nós (só assim funcionam) para cada doença endócrina poderá ser um caminho.
 

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