segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Exame citológico de fígado: quando e porquê?


Exame citológico de fígado: quando e porquê?
Artigo da autoria de:
Filipe Sampaio DVM, MSc
Laboratório Veterinário INNO
filipesampaio@inno.pt


O exame citológico do sistema hepatobiliar é frequentemente utilizado como um apoio de outros exames complementares (i.e., exames clínico e bioquímico, ecografia abdominal, etc.). Nalguns casos, pode fornecer um diagnóstico definitivo ou estruturar uma lista de diagnósticos diferenciais e orientar o Médico Veterinário para a realização de análises adicionais. Trata-se de um exame pouco invasivo, económico e poderá não requerer anestesia.

As indicações para a realização de citologia de fígado incluem: aumento dos valores bioquímicos das enzimas hepáticas, alterações ecográficas como hepatomegália, alterações de ecogenicidade ou presença de massas, ou estadiamento de certas doenças neoplásicas. A principal contraindicação assenta em animais com funções hemostáticas comprometidas essencialmente devido a risco hemorrágico acrescido. Por isso, a avaliação prévia do perfil de coagulação e hemograma (nomeadamente a contagem plaquetar) são recomendadas nestas situações.

Um estudo de Fleming KL et al. (2019) avaliou a qualidade citológica de colheitas hepáticas realizadas pelos métodos aspirativo e não aspirativo, num conjunto de cães de diferentes raças, idades e sexos. Os resultados demonstraram uma maior prevalência de amostras diagnósticas quando a técnica não-aspirativa era usada (93,9%), comparativamente à técnica aspirativa (81,5%). Estes resultados poderão ser explicados pela rutura celular e maior hemodiluição provocada pela aspiração do tecido hepático, que é naturalmente muito vascularizado.

Em termos citológicos, diversos processos como neoplasias primárias ou metastáticas, infeções focais, síndrome de lipidose hepática felina, hepatopatia provocada por corticosteroides e amiloidose poderão ser facilmente diagnosticados. No entanto, a citologia não permite uma clara distinção entre patologias inflamatórias focais e doenças crónicas progressivas, nem a sua extensão. Nestes casos poderá ser necessário recorrer a exame histopatológico para determinar a gravidade, prognóstico e planos terapêuticos adequados.


Bibliografia consultada:

Fleming KL, Howells EJ, Villiers EJ, Maddox TW. A randomized controlled comparison of aspiration and non-aspiration fine-needle techniques for obtaining ultrasound-guided cytological samples from canine livers. The Veterinary Journal 252: DOI : 1016/j.tvjl.2019.105372, 2019.
Raskin RE, Meyer DJ. Canine and feline cytology – A Color Atlas and Interpretation Guide. 3°edição Elsevier Saunders, St.Louis, Missouri. Pp. 259-260, 2016
Cowell RL, Tyler RD, Meinkoth JH, DeNicola DB. Diagnostic cytology and hematology of the dog and cat. 4°edição Mosby Elsevier, St.Louis, Missouri. Pp. 345-356, 2014

terça-feira, 15 de junho de 2021

Padrões de resistência antimicrobiana de bactérias isoladas exsudados auriculares de animais de companhia em Portugal


Otite externa
Artigo da autoria de:
Andreia Garcês DVM, MSc, PhD
Laboratório Veterinário INNO
andreiagarces@inno.pt


A otite externa é uma das doenças mais comuns em animais de companhia, em particular nos cães [1]. O seu diagnóstico é feito com base na história do animal, exame otoscópico da membrana timpânica e sinais clínicos como eritema, edema, odor fétido e prurido. É uma doença de etiologia multifatorial, sendo as leveduras e bactérias a principal etiologia [2,3]. Citologia, cultura microbiológica e testes de suscetibilidade antibacteriana são necessários para um correto diagnóstico e tratamento.

Foram analisadas todas as culturas microbiológicas de exsudados auriculares de cães e gatos submetidas ao Laboratório Veterinário INNO entre janeiro de 2017 e dezembro de 2019. Apenas os isolados positivos com crescimento bacteriano foram selecionados.

Um total de 2715 amostras tiveram resultado positivo para crescimento bacteriano. Das amostras positivas, 76,6% eram culturas puras e 23,4% mistas. No total, 3544 agentes foram isolados.

Os animais com infeção eram na sua maioria machos (56%). A classe de idade mais afetada foi entre 6-11 anos (34,8%), seguido dos animais jovens com 0-5 anos (29%). As raças de cães mais afetadas por otite foram o Golden Retriver (n=540), animais sem raça definida (SDR) (n=484) e buldogue francês/inglês (n=228). A raças de gato mais afetadas foram o europeu comum (n=125) e o persa (n=26). Estes resultados seguem em linha com o que encontra descrito na bibliografia em que os cães de raças com orelhas pendulares, hipertricose e excesso de humidade possuem predisposição para desenvolverem otite externa [2]

O principal agente etiológico isolado foi a Staphylococcus pseudointermedius (29,7%, n=1027), seguido da Pseudomonas aeruginosa (14,6%, n=506). Dos 1027 S. pseudintermedius e 121 S. aureus isolados, foi observado que 9% (44 em 503 testados para oxacilina) são S. pseudintermedius resistente à meticilina (MRSP), e 6% (3 em 51 testados para oxacilina) são S. aureus resistente à meticilina (MRSA). Cerca de 26% das S. aureus e 17 % S. pseudintermedius eram MDR. No caso de Pseudomonas aeruginosa 17 apresentavam resistência a carbapenemes., e 277 eram MDR (54,7%).

Relativamente à sensibilidade antimicrobiana, observamos que existe um predomínio de resistência aos antibióticos da categoria D. Na categoria D, inserem-se as classes de antibióticos utilizados como primeira linha de tratamento, como penicilinas, tetraciclinas, sulfonamidas entre outros [4]. Ao longo dos três anos de estudo foi possível observar que tem vindo a aumentar a resistência a antibióticos da categoria C. A utilização de antibióticos desta categoria deve ser feita com cuidado e limitada a situações em que não há alternativas da categoria D. Na categoria B e A para o período de estudo parece que tem vindo a diminuir o número de resistências, que é uma tendência que se deve tentar manter, uma vez que nestas duas categorias estão incluídas classes de antibióticos que são importante para medicina humana e alguns cujo uso é proibido em animais [4].

Os resultados obtidos neste estudo mostraram que em Portugal as otites de origem bacteriana seguem a mesma tendência que em outros países [1,2,5] e ajudam a compreender a situação a nível nacional, onde os estudos nesta área são quase inexistentes. Para além disso, realçam a importância de uma avaliação clínica individualizada nos quadros de otite externa e média em pequenos animais, reforçando a importância da realização de exame microbiológico e antibiograma como forma de selecionar o tratamento mais adequado e combater o aumento de bactérias multirresistentes.


Bibliografia consultada:

1 - Colombini S, Merchant SR, Hosgood G. Microbial flora and antimicrobial susceptibility patterns from dogs with otitis media. Vet Dermatol. 2000;11(4):235–9.
2 - Almeida MDS, Santos SB, Mota ADR, Da Silva LTR, Silva LBG, Mota RA. Isolamento microbiológico do canal auditivo de cães saudáveis e com otite externa na região metropolitana de Recife, Pernambuco. Pesqui Vet Bras. 2016;36(1):29–32.
3 - Oliveira LC, Brilhante RSN, Cunha AMS, Carvalho CBM. Perfil de isolamento microbiano em cães com otite média e externa associadas. Arq Bras Med Vet e Zootec. 2006;58(6):1009–17.
4 - Categorisation of antibiotics used in animals promotes responsible use to protect public and animal health | European Medicines Agency [Internet]. [cited 2020 Mar 2]. Available from: https://www.ema.europa.eu/en/news/categorisation-antibiotics-used-animals-promotes-responsible-use-protect-public-animal-health
5 - De Martino L, Nocera FP, Mallardo K, Nizza S, Masturzo E, Fiorito F, et al. An update on microbiological causes of canine otitis externa in Campania Region, Italy. Asian Pac J Trop Biomed [Internet]. 2016;6(5):384–9. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.apjtb.2015.11.012

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Anemia por deficiência em ferro


Microbiologia - urina
Augusto Silva, DVM
Laboratório Veterinário INNO
augustosilva@inno.pt


O desenvolvimento de anemia por deficiência em ferro desenrola-se em 3 etapas, que podem ser caracterizadas através de diferentes achados laboratoriais (tabela 1).

  1. Como consequência de um aporte nutricional insuficiente (raro) ou por perda externa crónica de sangue, ocorre uma deficiência em ferro. Nesta fase, a única alteração é a diminuição do ferro na medula óssea, visualizada como hemossiderina em esfregaços de medula corados com azul da Prússia.

  2. Quando se esgotam as reservas de ferro na medula óssea, começa a ocorrer eritropoise deficiente em ferro e o ferro sérico e a % de saturação da transferrina começam a diminuir.

  3. No último estádio, surgem eritrócitos microcíticos e hipocrómicos - está estabelecida a anemia por deficiência em ferro.
Tabela 1. Desenvolvimento de anemia por deficiência em ferro Tabela 1. Desenvolvimento de anemia por deficiência em ferro

Durante a perda aguda de sangue, as reservas corporais de ferro são geralmente suficientes para responder a uma eritropoiese acelerada, pelo que a anemia por deficiência em ferro só se desenvolve após semanas a meses de perdas crónicas e recorrentes de sangue, tanto em animais jovens como adultos. As causas mais frequentes de perda externa crónica de sangue são hemorragia gastrointestinal, infestações severas por parasitas hematófagos (tais como pulgas, carraças ou ancilostomídeos), hematúria, epistaxis, coagulopatia, trombocitopenia e trombocitopatia.

O diagnóstico de anemia por deficiência em ferro pode ser estabelecido laboratorialmente através da realização de vários testes:
  • Concentração de ferro sanguíneo
  • Capacidade total de fixação do ferro
  • % de saturação da transferrina
  • Ferritina
  • Outros testes (índices reticulocitários e aspirados de medula óssea)

A ferritina pode ser detectada no soro e tem uma boa correlação com as reservas de ferro no organismo; no entanto, o ensaio para medição da ferritina é espécie-específico e a sua disponibilidade em laboratórios de análises clínicas é ainda muito reduzida.

A medição da concentração de ferro é usada como uma maneira de avaliar as reservas de ferro no organismo. No entanto a sua utilização tem algumas limitações, uma vez que a sua concentração representa apenas uma pequena fracção do ferro total do organismo (<0,1%) e flutua rapidamente devido ao seu rápido “turn-over” ou presença de processos inflamatórios mediados por citoquinas.

A capacidade total de fixação do ferro é uma medição indirecta da transferrina, uma proteína de fase aguda negativa responsável pelo transporte do ferro.

A % de saturação da transferrina é um indicador da quantidade de transferrina que se encontra saturada com ferro e que, num animal saudável, é cerca de 33%.

As alterações destes três resultados devem ser interpretadas em conjunto. Assim, como forma de auxiliar o diagnóstico de anemia por deficiência em ferro, passamos a disponibilizar um painel de metabolismo do ferro que inclui a medição da concentração de ferro sérico, capacidade total de fixação do ferro (TIBC) e percentagem de saturação da transferrina, e que deverá ser solicitado na presença das seguintes indicações:
  • Quadro clínico compatível e história de perda de sangue externa ou parasitismo;
  • Anemia microcítica hipocrómica - hemograma com hematócrito, volume celular médio (MCV) e índices de concentração de hemoglobina (MCH ou MCHC) diminuídos;
  • Hipoproteinémia (diminuição da concentração sérica de albumina e globulinas, com rácio A:G normal).

Este painel permite estabelecer um diagnóstico de anemia por deficiência em ferro, ao mesmo tempo que fornece informação adicional sobre outros possíveis processos patológicos (tabela 2):

Tabela 2. Interpretação do painel de metabolismo do ferro Tabela 2. Interpretação do painel de metabolismo do ferro



Bibliografia consultada:

1 – Bohn AA. Diagnosis of disorders of iron metabolismo in dogs and cats. Vet Clin Small Animal 2013; 43:1319-1330
2 – Naigamwalla DZ, Webb JA, Giger U. Iron deficiency anemia. Can Vet J 2012; 53:250-256
3 – Weiss DJ, Iron and copper deficiencies and disorders of iron metabolism. In Schalm’s Veterinary Hematology 6th Edition. Wiley-Blackwell
4 – Iron metabolism [Internet] Available from: https://www.eclinpath.com/chemistry/iron-metabolism/

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Infeções do trato urinário em pequenos animais: um estudo retrospetivo das culturas urinárias entre 2017-2019


Microbiologia - urina
Artigo da autoria de:
Andreia Garcês DVM, MSc, PhD
Laboratório Veterinário INNO
andreiagarces@inno.pt


As infeções do trato urinário (ITU) são comuns em Medicina Veterinária, particularmente em canídeos. O seu diagnóstico é feito com base na história clínica (história de polaquiúria, estrangúria, disúria, hematúria, micção inadequada, ou periuria), exame físico, urianálise e cultura urinária. A cultura microbiológica combinada com os testes de sensibilidade é a melhor ferramenta para o diagnóstico e tratamento das ITU [1–4].

Neste trabalho analisamos os resultados de culturas urinárias admitidas no Laboratório veterinário INNO no período de 2017-2019, de forma a observar como tem evoluído neste período em Portugal a resistência antimicrobiana em bactérias isoladas de infeções do trato urinário de animais de companhia.

De 2017 a 2019 um total de 8274 amostras de urina foram submetidas para exame microbiológico. Destas 5778 tiveram crescimento amicrobiano e as restantes 2465 crescimento microbiano. Das amostras positivas um total de 2611 agentes foram isolados. Das amostras positivas 98% eram culturas puras, e 2% mistas. Os animais com infeção eram na sua maioria machos (56%). A classe de idade mais afetada foi entre 6-11 anos (31,6%), seguido dos animais geriátricos com 11-20 anos (30,6%). Neste estudo o principal agente isolado foi Escherichia coli, com uma prevalência de 47,6% (n=1244). Destas 1,9% (n=24) eram multiresistentes (MRD), 5,1% (n=64) apresentavam resistência a carbapenemes e 1,9%(n=24) eram enterobacteriaceae produtoras de β-lactamase de espectro alargados (ESBL).

Durante o período de 2017-2019, foi possível observar um aumento de resistência a antibióticos da categoria A, apesar de predominar a resistência aos antibióticos da categoria D. O predomínio de resistência a antibióticos da categoria D, era expectável, uma vez que são os antibióticos de primeira linha. Ao longo do período de 3 anos parece existir uma diminuição na percentagem de resitência nas categorias A, D. Na categoria A, é uma tendência que se deve tentar manter, uma vez que nestas duas categorias estão incluídas classes de antibióticos que são importante para medicina humana e alguns cujo uso é proibido em animais [5]Na categoria C parecem ter vindo aumentar a percentagem de resistências o que deve ser visto com preocupação.

O padrão de resistência é semelhante ao que tem sido descrito um pouco por toda a Europa. A baixa percentagem de ESBL e MRD E. coli já foi observada em outros estudos, apesar de já terem sido descritas percentagens mais elevadas na Europa [6,7].

Os resultados observados neste estudo contribuem para a compreensão dos padrões de resistência antimicrobiana ITU na população de animais domésticos em Portugal. A maioria das ITU são tratadas com sucesso com tratamento apropriado, mas infelizmente, devido à presença de bactérias multirresistentes o tratamento pode se prolongar ou ocorrer o risco de infeções recorrentes. Estas bactérias também são responsáveis pela debilidade do sistema imunitário do animal. Nestes animais é necessário identificar as causas associadas à predisposição para esta infeção e as terapias devem ser usadas como prevenção em vez de tratamento [3,4]. As culturas microbiológicas combinadas com os testes de sensibilidade são essenciais para um tratamento eficaz das ITU.


Bibliografia consultada:

1 - Guardabassi L, Schwarz S, Lloyd DH. Pet animals as reservoirs of antimicrobial-resistant bacteria. J Antimicrob Chemother. 2004;54(2):321–32. 
2 - Magiorakos AP, Srinivasan A, Carey RB, Carmeli Y, Falagas ME, Giske CG, et al. Multidrug-resistant, extensively drug-resistant and pandrug-resistant bacteria: An international expert proposal for interim standard definitions for acquired resistance. Clin Microbiol Infect [Internet]. 2012;18(3):268–81. Available from: http://dx.doi.org/10.1111/j.1469-0691.2011.03570.x 
3 - Weese JS, Blondeau JM, Boothe D, Breitschwerdt EB, Guardabassi L, Hillier A, et al. Antimicrobial use guidelines for treatment of urinary tract disease in dogs and cats: Antimicrobial guidelines working group of the international society for companion animal infectious diseases. Vet Med Int. 2011;2011. 
4 - Bartges JW. Diagnosis of urinary tract infections. Vet Clin North Am - Small Anim Pract. 2004;34(4):923–33. 
5 - Categorisation of antibiotics used in animals promotes responsible use to protect public and animal health | European Medicines Agency [Internet]. [cited 2020 Mar 2]. Available from: https://www.ema.europa.eu/en/news/categorisation-antibiotics-used-animals-promotes-responsible-use-protect-public-animal-health 
6 - Smee N, Loyd K, Grauer GF. UTIs in small animal patients: Part 2: Diagnosis, treatment, and complications. J Am Anim Hosp Assoc. 2013;49(2):83–94. 
7 - Punia M, Kumar A, Charaya G, Kumar T. Pathogens isolated from clinical cases of urinary tract infection in dogs and their antibiogram. Vet World. 2018;11(8):1037–42. 

terça-feira, 21 de julho de 2020

Imunocitoquímica de linfomas em lâminas de citologia – uma técnica em expansão


População de células linfóides Anticorpos anti-CD20 Categorização de antibióticos Figura 1. Linfoma de grandes células B difuso em cão. Punção por agulha fina de gânglio linfático pré-escapular aumentado. A - População de células linfóides médias a grandes e abundantes corpos linfoglandulares; e raros linfócitos pequenos. Diff-Quik, 400x. B - Anticorpos anti-CD20. Positividade maioritária em células linfóides neoplásicas (400x). C - Anticorpos anti-CD3. Positividade minoritária em células linfóides não neoplásicas (400x).
Artigo da autoria de:
Filipe Sampaio, DVM, MSc
Laboratório Veterinário INNO
filipesampaio@inno.pt


O exame citológico é um método rápido, fácil e económico que permite um diagnóstico confiável de linfoma em Medicina Veterinária [1]. A classificação de linfoma inclui um protocolo estruturado que engloba classificações histológicas, imunofenotípicas e moleculares que determinam diferentes prognósticos e esquemas terapêuticos [2-4]. Porém, para as realizações destes exames, os animais são muitas vezes sujeitos a intervenções médicas que envolvem custos adicionais.

Atualmente, o desenvolvimento e a aplicação de técnicas de imunofenotipagem em preparações citológicas submetidas aos nossos laboratórios, com ou sem coloração prévia, permitem obter informação sobre o fenótipo celular de uma forma simples e prática. Desta maneira, evita-se repetir procedimentos muitas vezes invasivos e dispendiosos, frequentemente associados a um considerável risco anestésico e que são morosos para os médicos veterinários.

A combinação de citologia com imunocitoquímica (ICQ) é um procedimento que já se provou eficaz na caraterização fenotípica das neoplasias linfoproliferativas [1, 3, 5, 6]. A ICQ é uma técnica usada para identificar microscopicamente antigénios em material citológico [5]. A classificação das células linfóides é feita recorrendo a anticorpos específicos, mono ou policlonais, identificando o fenótipo celular: B ou T.

A determinação do fenótipo B ou T, conjuntamente com a avaliação citológica das células linfóides, constitui uma importante ferramenta não só na classificação, mas também no prognóstico de linfomas [2, 5, 6].

Para mais esclarecimentos técnicos, contacte o nosso laboratório.


Bibliografia consultada:

1 - Caniatti, M., et al., Canine lymphoma: immunocytochemical analysis of fine-needle aspiration biopsy. Vet Pathol, 1996. 33(2): p. 204-12. 
 2 - Ponce, F., et al., A morphological study of 608 cases of canine malignant lymphoma in France with a focus on comparative similarities between canine and human lymphoma morphology. Vet Pathol, 2010. 47(3): p. 414-33. 
 3 - Sapierzynski, R., Practical aspects of immunocytochemistry in canine lymphomas. Pol J Vet Sci, 2010. 13(4): p. 661-8. 
 4 - Valli, V.E., et al., Classification of canine malignant lymphomas according to the World Health Organization criteria. Vet Pathol, 2011. 48(1): p. 198-211. 
 5 - Priest, H.L., et al., The use, publication and future directions of immunocytochemistry in veterinary medicine: a consensus of the Oncology-Pathology Working Group. Vet Comp Oncol, 2017. 15(3): p. 868-880. 
 6 - Raskin, R.E., et al., Optimized immunocytochemistry using leukocyte and tissue markers on Romanowsky-stained slides from dogs and cats. Vet Clin Pathol, 2019. 48 Suppl 1: p. 88-97.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Categorização dos antibióticos para utilização em animais


Categorização de antibióticos
Artigo da autoria de:
Augusto Silva, DVM
Laboratório Veterinário INNO
augustosilva@inno.pt


O surgimento e o aumento consistente de ocorrências de bactérias resistentes a múltiplos antibióticos são uma ameaça à saúde pública global. Tendo em vista a redução de bactérias resistentes que possam ser transferidas a humanos quer pela via da cadeia alimentar ou quer pelo contacto directo, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), através do AMEG (Antimicrobial Advice Ad Hoc Expert Group), publicou no início de 2020 um documento onde é efectuada a categorização dos antibióticos para utilização em animais com vista a um uso prudente e responsável:

  • Categoria A (“Avoid”) inclui antibióticos actualmente não autorizados para utilização em medicina veterinária na UE. Estes antibióticos não podem ser usados em animais de produção e podem ser dados a animais de companhia apenas em circunstâncias excepcionais.

  • Categoria B (“Restrict”) inclui quinolonas, cefalosporinas de 3ª e 4ª gerações e polimixinas. Os antibióticos desta categoria são de elevada importância em medicina humana e o seu uso em animais deve ser restringido a situações de mitigação de risco para a saúde pública e quando não há alternativas clinicamente eficazes nas Categorias C e D.

  • Categoria C (“Caution”) inclui antibióticos para os quais geralmente existem alternativas em medicina humana na UE, mas nem sempre existem alternativas para utilização em medicina veterinária na Categoria D. Devem ser usados apenas quando não há substâncias clinicamente eficazes na Categoria D. Esta categoria inclui, entre outros, antibióticos dos seguintes grupos: aminoglicosídeos, cefalosporinas de 1ª e 2ª gerações, aminopenicilinas com inibidores das beta lactamases, macrólidos.

  • Categoria D (“Prudence”) inclui antibióticos que devem ser usados como primeira linha de tratamento sempre que possível, e apenas quando medicamente justificável. Esta categoria inclui, entre outros, antibióticos dos seguintes grupos: penicilinas sensíveis às beta lactamases, aminopenicilinas sem inibidores das beta-lactamases, tetraciclinas, sulfonamidas.


Outros factores a considerar na selecção do antibiótico para tratamentos individuais incluem a via de administração. Na lista abaixo são sugeridas as vias de administração e formulações, classificadas do menor para o maior impacto na resistência a antibióticos:

  • Tratamento tópico (p.ex: formulações para aplicação auricular ou ocular)

  • Tratamento parentérico (intravenoso, intramuscular ou subcutâneo)

  • Tratamento oral (comprimidos, suspensão oral)


Para informação mais detalhada pode consultar o site da EMA.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Tumores felinos mais frequentes – Uma abordagem racial em um estudo retrospectivo de 10 anos



Artigo da autoria de:
Andreia Garcês1, Leonor Delgado2, Paula Brilhante Simões2, Isabel Pires3,4, Felisbina Queiroga13, Justina Prada3,4
1 CITAB- Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal
2 INNO Laboratório, Serviços especializados em veterinária, Braga, Portugal
3 Departamento de Ciências Veterinárias da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal
4 CECAV - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal
geral@inno.pt


O cancro é uma doença comum em gatos, apesar de ser menos comum do que se tem vindo a observar em cães (Cannon, 2015). É um processo de várias fases e com uma etiologia multifatorial, como químicos, vírus oncogénicos, genética, hormonas e outros (Graf et al., 2016). Semelhante ao que já foi observado em cães, algumas raças de gatos puros parecem ter uma maior predisposição genética para desenvolver determinados tipos de tumores, provavelmente ligados à transmissão de genes anormais que são uma condição prévio para a transformação celular maligna, influenciando direta ou indiretamente os genes supressores de tumores e oncogenes (Davis e Ostrander, 2014).

Este estudo preliminar trata-se de uma pesquisa retrospetiva e descritiva que se baseou nos registos de 10 anos de diagnóstico de tumores em gatos fornecidos por um laboratório veterinário situado em Portugal. Os dados recolhidos incluíram os registos de diagnóstico de amostras produzidas por dois métodos de diagnóstico diferente: o exame post mortem e a biópsia, todas derivadas de exames microscópico. Apenas a informação relacionada com a raça e a localização do tumor nos diferentes órgãos foi utilizada. A classificação do tumor foi baseada na Classificação Internacional da OMS de Tumores de Animais Domésticos em 17 categorias diferentes (Meuten, 2017). Os tumores incluídos neste estudo tiveram origem na pele, tecidos moles, ossos, articulações, músculo, aparelho digestivo, glândulas endócrinas, olhos, aparelho genital, aparelho hemolinfático, fígado e vesícula biliar, glândula mamária, sistema nervoso, aparelho respiratório e aparelho urinário.

Foram analisados um total de 2785 gatos diagnosticados com tumores, de 8 raças diferentes: europeu de pelo curto (1788, 64,2%), maine coon (2, 0,10%), bosque da noruega (28, 1,0%), gato oriental de pelo curto (3, 0,1%), gato persa de pelo longo (152, 5,8%), siamês (170, 6,1%), angorá turco (3, 0,1%) e sem raça definida (629, 22,6%). No gato europeu de pelo curto, 42,2% (n = 755) dos tumores eram de origem mamária, 20,8% (n = 372) eram tumores mesenquimais da pele e tecidos moles e 15,8% (n = 283) eram tumores epiteliais e melanocíticos pele. Nos gatos persas de pelo longo, os tumores da glândula mamária foram os mais comuns 43,4% (n = 66), seguidos pelos tumores epiteliais e melanocíticos da pele (n = 28, 18,4%). O gato bosque da noruega apresentava 35,7% (n = 10) de tumores epiteliais e melanocíticos da pele e tecidos moles e 28,6% (n = 8) de tumores mesenquimais da pele e tecidos moles. No gato siamês, 45,3% (n = 77) eram tumores da glândula mamária e 21,2% (n = 36) tumores mesenquimais da pele e tecidos moles. Nos gatos sem raça definida, 39,4% (n = 248) dos tumores estavam localizados na glândula mamária e 18,0% (n = 113) eram tumores epiteliais e melanocíticos da pele.

Neste trabalho preliminar, os tumores da glândula mamária e os tumores mesenquimais da pele e tecidos moles foram os predominantes na população estudada. Estes estudos baseados numa grande quantidade de amostras recolhidas durante longos períodos de tempo, são importantes para entender a situação dos tumores felinos em Portugal. Os resultados atuais podem ser altamente úteis para informar melhor os clientes, diagnóstico e tratamento precoces de tumores felinos e também contribuem para a oncologia comparativa de humanos e animais de companhia.



Bibliografia consultada:

1 - Cannon C. Cats, Cancer and Comparative Oncology. Vet Sci 2015;2:111–26.
2 - Davis BW, Ostrander EA. Domestic dogs and cancer research: A breed-based genomics approach. ILAR J 2014;55:59–68.
3 - Graf R, Grüntzig K, Boo G, Hässig M, Axhausen KW, Fabrikant S, et al. Swiss Feline Cancer Registry 1965-2008: The Influence of Sex, Breed and Age on Tumour Types and Tumour Locations. J Comp Pathol 2016;154:195–210.
4 - Meuten D, editor. Tumors in domestic animals. 5th edition. Ames, Iowa: John Wiley & Sons Inc; 2017.
5 - Todorova I. Prevalence and Etiology of the Most Common Malignant Tumours in Dogs and Cats. Bulg J Vet Med 2006;9:85–98.
 

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