segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Anemia por deficiência em ferro


Microbiologia - urina
Augusto Silva, DVM
Laboratório Veterinário INNO
augustosilva@inno.pt


O desenvolvimento de anemia por deficiência em ferro desenrola-se em 3 etapas, que podem ser caracterizadas através de diferentes achados laboratoriais (tabela 1).

  1. Como consequência de um aporte nutricional insuficiente (raro) ou por perda externa crónica de sangue, ocorre uma deficiência em ferro. Nesta fase, a única alteração é a diminuição do ferro na medula óssea, visualizada como hemossiderina em esfregaços de medula corados com azul da Prússia.

  2. Quando se esgotam as reservas de ferro na medula óssea, começa a ocorrer eritropoise deficiente em ferro e o ferro sérico e a % de saturação da transferrina começam a diminuir.

  3. No último estádio, surgem eritrócitos microcíticos e hipocrómicos - está estabelecida a anemia por deficiência em ferro.
Tabela 1. Desenvolvimento de anemia por deficiência em ferro Tabela 1. Desenvolvimento de anemia por deficiência em ferro

Durante a perda aguda de sangue, as reservas corporais de ferro são geralmente suficientes para responder a uma eritropoiese acelerada, pelo que a anemia por deficiência em ferro só se desenvolve após semanas a meses de perdas crónicas e recorrentes de sangue, tanto em animais jovens como adultos. As causas mais frequentes de perda externa crónica de sangue são hemorragia gastrointestinal, infestações severas por parasitas hematófagos (tais como pulgas, carraças ou ancilostomídeos), hematúria, epistaxis, coagulopatia, trombocitopenia e trombocitopatia.

O diagnóstico de anemia por deficiência em ferro pode ser estabelecido laboratorialmente através da realização de vários testes:
  • Concentração de ferro sanguíneo
  • Capacidade total de fixação do ferro
  • % de saturação da transferrina
  • Ferritina
  • Outros testes (índices reticulocitários e aspirados de medula óssea)

A ferritina pode ser detectada no soro e tem uma boa correlação com as reservas de ferro no organismo; no entanto, o ensaio para medição da ferritina é espécie-específico e a sua disponibilidade em laboratórios de análises clínicas é ainda muito reduzida.

A medição da concentração de ferro é usada como uma maneira de avaliar as reservas de ferro no organismo. No entanto a sua utilização tem algumas limitações, uma vez que a sua concentração representa apenas uma pequena fracção do ferro total do organismo (<0,1%) e flutua rapidamente devido ao seu rápido “turn-over” ou presença de processos inflamatórios mediados por citoquinas.

A capacidade total de fixação do ferro é uma medição indirecta da transferrina, uma proteína de fase aguda negativa responsável pelo transporte do ferro.

A % de saturação da transferrina é um indicador da quantidade de transferrina que se encontra saturada com ferro e que, num animal saudável, é cerca de 33%.

As alterações destes três resultados devem ser interpretadas em conjunto. Assim, como forma de auxiliar o diagnóstico de anemia por deficiência em ferro, passamos a disponibilizar um painel de metabolismo do ferro que inclui a medição da concentração de ferro sérico, capacidade total de fixação do ferro (TIBC) e percentagem de saturação da transferrina, e que deverá ser solicitado na presença das seguintes indicações:
  • Quadro clínico compatível e história de perda de sangue externa ou parasitismo;
  • Anemia microcítica hipocrómica - hemograma com hematócrito, volume celular médio (MCV) e índices de concentração de hemoglobina (MCH ou MCHC) diminuídos;
  • Hipoproteinémia (diminuição da concentração sérica de albumina e globulinas, com rácio A:G normal).

Este painel permite estabelecer um diagnóstico de anemia por deficiência em ferro, ao mesmo tempo que fornece informação adicional sobre outros possíveis processos patológicos (tabela 2):

Tabela 2. Interpretação do painel de metabolismo do ferro Tabela 2. Interpretação do painel de metabolismo do ferro



Bibliografia consultada:

1 – Bohn AA. Diagnosis of disorders of iron metabolismo in dogs and cats. Vet Clin Small Animal 2013; 43:1319-1330
2 – Naigamwalla DZ, Webb JA, Giger U. Iron deficiency anemia. Can Vet J 2012; 53:250-256
3 – Weiss DJ, Iron and copper deficiencies and disorders of iron metabolism. In Schalm’s Veterinary Hematology 6th Edition. Wiley-Blackwell
4 – Iron metabolism [Internet] Available from: https://www.eclinpath.com/chemistry/iron-metabolism/

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