terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Controlo de Qualidade Externo de Endocrinologia (VEEEQAS)

Na INNO, temos o máximo compromisso com o rigor dos resultados das análises que efetuamos. Para além dos controlos internos de qualidade realizados diariamente, é importante que sejam realizadas auditorias por entidades externas, como forma de reforçar o prestígio do nosso serviço.

Neste contexto, estamos inscritos desde o início do ano no Veterinary European Endocrine External Quality Assurance Scheme (VEEEQAS), um programa de controlo de qualidade estabelecido pela Sociedade Europeia de Endocrinologia Veterinária (ESVE), em parceria com a Universidade de Nottingham e os laboratórios NationWide Specialist (NWL).

O programa consiste em controlos semestrais enviados à ESVE, única entidade a nível europeu a desenvolver este tipo de controlos.

Em junho, a INNO reportou ao coordenador do programa os resultados das primeiras medições. Fê-lo juntamente com outros 77 laboratórios – num total de 476 resultados – distribuídos um pouco por todo o mundo.



Comparando os resultados com os de outros laboratórios, através do cálculo da média do desvio-padrão obtido nas mediações dos analitos (AAASDM), a INNO posiciona-se no grupo de 12 laboratórios com os melhores resultados. A lista de laboratórios inscritos, que foi atualizada pela última vez em novembro de 2017, encontra-se aqui.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Novo método diagnóstico do Tétano: Toxinotipo de Clostridium tetani com identificação das toxinas tetânicas de A a F



Artigo da autoria de:
Ricardo Lopes, DVM
Laboratório Veterinário INNO
geral@inno.pt


O tétano é uma doença infeciosa causada por uma neurotoxina, formada durante o crescimento vegetativo da bactéria Clostridium tetani, que é um bacilo gram positivo, flagelado, não encapsulado, anaeróbio e produtor de esporos que podem sobreviver durante meses a anos.

A infeção desenvolve-se quando os esporos tetânicos contaminam feridas ou são inoculados por lesão penetrante com material contaminado. As toxinas, como a tetanospasmina, penetram nos axónios dos nervos motores, próximo da junção neuromuscular e ascendem por transporte intra-axonal retrógrado ao corpo neuronal na medula espinhal. Uma vez na medula, as toxinas ascendem bilateralmente até ao cérebro, migrando numa taxa de 75-250mm por dia. A tetanospasmina inibe a libertação dos neurotransmissores glicina e ácido gama-aminobutírico (GABA), responsáveis pelas respostas neuronais inibitórias, resultado em hiperexcitabilidade do sistema nervoso central (SNC). Com o progredir da infeção, há também a inibição dos neurotransmissores do centro inibitório parassimpático cardíaco, resultando no aumento do estímulo vagal. Os sinais clínicos desenvolvem-se geralmente em 5 a 10 dias, após infeção, sendo a progressão tanto mais rápida quanto mais proximal for a inoculação do SNC, ou quando a carga bacteriana é elevada.

Os cães e gatos apresentam resistência natural aos efeitos da toxina tetânica, quando comparados com outras espécies, especialmente o Homem e os equinos. Esta resistência deve-se à incapacidade da toxina em penetrar e ligar-se ao tecido nervoso. Contudo animais jovens e cães de raças grandes são mais comummente afetados.

O diagnóstico confirmatório é difícil, uma vez que a prova cultural do agente é bastante morosa e exige condições estritas de anaerobiose durante períodos prolongados, de no mínimo 12 dias. Para além de que a concentração do agente, sendo normalmente baixa nos tecidos infetados, dificulta a confirmação cultural.

Não havendo, neste momento, outros métodos de diagnóstico disponíveis, os testes moleculares tornam-se essenciais para a identificação das toxinas produzidas pelo agente e para confirmar a doença. Desta forma, apresentamos um novo método diagnóstico do tétano.

Para qualquer esclarecimento adicional, contacte o nosso laboratório.

segunda-feira, 27 de março de 2017

Inovação em Microbiologia. Contagens bacterianas estáveis até 48 horas















A urina, a par do sangue, é o espécime mais frequentemente analisado em laboratórios de análises clínicas. De todas as análises efetuadas em urina, a cultura microbiológica é das mais sujeitas a alterações quando as condições pré-analíticas não são as ideais. Um dos principais problemas é o crescimento bacteriano que ocorre quando as amostras não são mantidas refrigeradas, ou sujeitas a transportes demorados. O crescimento de contaminantes pode, desse modo, sobrepor-se ao de germes patogénicos. 

Os tubos da Vacuette para cultura urinária contêm um conservante (ácido bórico) que mantém as contagens bacterianas estáveis até 48 horas à temperatura ambiente, eliminando a necessidade de refrigeração da urina. Outras características dos tubos são as tampas de segurança que evitam derramamento da amostra e a sua composição em plástico PET, que os torna virtualmente inquebráveis.

As vantagens do envio de amostras de urina para cultura microbiológica nestes tubos são evidentes, os diagnósticos são mais seguros, os resultados mais rápidos e menos pedidos de novas colheitas.

Para qualquer esclarecimento adicional, contacte o nosso laboratório.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Alteração ao Antibiograma Introdução da Cefovecina


Artigo da autoria de:
Augusto Silva, DVM
Laboratório Veterinário INNO
geral@inno.pt
     
       
A seleção de um antibiótico é uma decisão cuja importância é indissociável do fenómeno de resistência aos antibióticos e suas consequências, não só em termos de saúde do animal a ser tratado, como também em termos de saúde pública. Por esse motivo, a realização de culturas microbiológicas e o teste de sensibilidade a antibióticos (TSA) são uma análise indispensável para todos os CAMV's que pretendam fazer uma escolha baseada em critérios objetivos.

A realização desta análise tem, no entanto, que cumprir certos requisitos, tais como prazos de resposta e uma seleção de antibióticos adequados à realidade da prática clínica. As microbiologias do laboratório INNO são efetuadas num equipamento VITEK® 2, um equipamento automático que minimiza a manipulação humana e que, entre outras vantagens, permite obter a identificação dos organismos e respetivo TSA, após isolamento primário, em períodos substancialmente inferiores aos métodos tradicionais (1).

As cartas VITEK para realização do TSA utilizadas nas análises microbiológicas do laboratório INNO são cartas criadas especificamente para medicina veterinária, sendo testada a suscetibilidade dos agentes isolados a antibióticos exclusivos da medicina veterinária. Estas cartas são sujeitas periodicamente a revisões, cuja intenção é torná-las mais adequadas às moléculas e formulações comercialmente disponíveis no mercado veterinário. Assim, desde o ano passado, passou a ser incluído na lista de antibióticos testados a cefovecina, a substância activa do Convenia® e que, pela facilidade de administração e amplo espetro de ação, é amplamente utilizada nos CAMV's (2). Respeitando as indicações terapêuticas do antibiótico e as indicações do EUCAST (European Commitee on Antimicrobial Susceptibility Testing), passará então a ser emitido nos boletins de resultados das microbiologias o resultado do TSA dos seguintes agentes à cefovecina: Staphylococcus spp, Enterococcus spp, Streptococcus agalactiae e bacilos Gram negativo aeróbios de interesse clínico.

Para qualquer esclarecimento adicional, contacte o nosso laboratório.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Hipo ou Hipertiroidismo? Desmistificar a T4 Livre e T4 Livre por Equilíbrio de Diálise

Artigo da autoria de:
Ricardo Lopes, DVM MSc; Augusto Silva, DVM; Paula Brilhante Simões, DVM MSc
Laboratório Veterinário INNO

geral@inno.pt


A função da glândula tiroide é tipicamente avaliada pela medição da concentração dos níveis séricos das suas hormonas. Avaliar a capacidade de resposta da glândula tiroide à sua estimulação (p. ex. Teste de Estimulação com TSH) é considerado o teste gold standard no diagnóstico definitivo de disfunção tiroidea, contudo é raramente realizado na prática clínica devido aos elevados custos da TSH recombinante. Desta forma estão disponíveis testes que incluem a medição de T4, T4 livre (fT4), T3 livre (fT3) e 3,3’,5’triiodotironina (rT3), bem como a medição da concentração de TSH (1-7).

A tiroxina (T4) é a principal hormona secretada pela glândula tiroide. Uma vez em circulação, mais de 99% encontra-se ligada a proteínas plasmáticas. Apenas a sua porção livre, T4 livre (fT4) é biologicamente ativa, exercendo inibição por feedback negativo na secreção de TSH pituitária (7).

A tiroxina livre (fT4), como fração biologicamente ativa da tiroxina (T4), fornece informação mais precisa sobre a função da glândula tiroide do que a tiroxina sérica total (TT4) ou a triiodotironina (T3) (4)(7).

Diversas metodologias estão disponíveis para a medição de T4 livre (fT4) no soro. Embora a técnica gold standard para medição de tiroxina livre seja por equilíbrio de diálise, esta é uma técnica dispendiosa e morosa, uma vez que requer um processamento de vários dias, sendo quase exclusivamente realizada em laboratórios de investigação. Nos laboratórios comerciais, as medições de fT4 realizadas por equilíbrio de diálise têm por base técnicas de diálise modificadas (MED), nas quais as frações de tiroxina livre são isoladas, seguindo-se a sua medição, por técnicas de radioimunoensaio (RIA) ou quimiluminescência (1-8).

Estudos recentes (2-3)(9) demonstraram que a precisão diagnóstica das técnicas de medição de T4 livre por equilíbrio de diálise modificada (MED) variaram entre 86-93%, quando comparadas com técnicas comercialmente disponíveis para medição de T4 total, as quais apresentam precisão diagnóstica de 75-85% (2-3)(7).

Contudo, a maioria das técnicas de diálise utilizadas estão otimizadas para medicina humana, tendo por isso precisão diagnóstica pouco diferente da T4 total, e em alguns casos até menor, devido à especificidade da técnica e a variações do peso molecular proteico entre as diferentes espécies. Desta forma existem alternativas diagnósticas mais eficientes e específicas na medição de T4 livre (fT4) (3-8).

Com a necessidade diagnóstica específica em medicina veterinária, foi desenvolvida uma técnica inovadora para medição da T4 livre, o imunoensaio por quimiluminescência (CLIA), disponível apenas num dos equipamentos de endocrinologia mais sofisticados do mercado, o IMMULITE 2000® - Siemens Healthcare Diagnostics Products Ltd., Llanberis, Gweynedd, UK (9).

Neste equipamento a medição da T4 livre específica (VfT4) apresenta sensibilidade de 80% e 87%, especificidade de 97% e 100% e precisão diagnóstica de 89%, para caninos e felinos, respetivamente, conforme pode ser verificado na Tabela 1 (2)(7).


Esta técnica inovadora permite a medição de tiroxina livre (fT4) com uma precisão diagnóstica igual ou superior às técnicas de equilíbrio diálise padrão, em poucas horas, com volumes substancialmente menores de soro e consideravelmente menos dispendiosa (2)(7).

Embora a circulação de anticorpos anti-tiróideos não interfira com os resultados determinados pelas técnicas MED, a interferência com a técnica de imunoensaio por quimiluminescência (CLIA) é residual na medição de tiroxina livre específica (VfT4), o que não acontece com as restantes técnicas, nomeadamente por radioimunoensaio (RIA) (3).
Em suma, a precisão diagnóstica desta nova técnica, com recurso ao equipamento IMMULITE 2000®, Siemens Healthcare Diagnostics Products Ltd. é equiparável às técnicas mais avançadas de diagnóstico na disfunção tireóidea. Permitindo a mensuração da concentração de T4 livre (fT4) com uma sensibilidade, especificidade e precisão semelhantes ou superiores ao equilíbrio de diálise, tendo demonstrado ser um método inovador e de excelência, disponível como análise endocrinológica de rotina, para pacientes felinos e caninos (1-4)(7).


Precisão de Determinação de Tiroxina Livre por
Imunoensaio por Quimioluminescência Vs. Diálise de Equilíbrio
Técnica
Sensibilidade (%)
Especificidade (%)
Precisão (%)
Gatos*
Cães#
Gatos*
Cães#
Gatos*
Cães#
VfT4
87%
80%
100%
97%
89%
89%
fT4EDIVD
87%
92%
100%
90%
89%
91%
fT4EDAN
92%
71%
67%
100%
89%
86%
DfT4
89%
96%
100%
90%
91%
93%

Legenda: Immulite 2000® Veterinary Free T4 (VfT4) (Siemens Health Care Diagnostics). T4 Livre Direta por Equilíbrio de Diálise (fT4EDIVD) (IVD Tecnhologies, Santa Ana, CA, USA). T4 Livre por Equilíbrio de Diálise (fT4EDan) (Antech Diagnostics, Irvine, CA, USA). T4 Livre GamaCoatTM por radioimunoensaio (RIA) (DfT4) (Diasorin Inc).
*Estudo realizado num universo de 98 felinos, 53 clinicamente saudáveis e 45 com hipertiroidismo clínico 9
**Estudo realizado num universo de 56 caninos com sinais clínicos de hipotiroidismo, 31 eutiróides e 25 hipotiróides 2


Bibliografia consultada

1- Ferguson DC (2007). Testing for hypothyroidism in dogs, Vet Clin Small Anim 37:647.
2- Scott-Moncrieff JCR, et al. (2011). Accuracy of serum free thyroxine concentrations determined by a new veterinary chemiluminescent immunoassay in euthyroid and hypothyroid dogs, J Vet Intern Med 25:1493
3- Randolph JF, et al. (2015). Free thyroxine concentrations by equilibrium dialysis and chemiluminescent immunoassays in 13 hypothyroid dogs positive for thyroglobulin antibody, J Vet Intern Med 29:877–881
4- Feldman EC, Nelson RW, eds (2004). Canine and Feline Endocrinology and Reproduction, 3rd ed. St. Louis, MO: Saunders 85–151
5- Shiel RE, et al.(2007a). Thyroid hormone concentrations in young healthy pretraining greyhounds, Vet Rec 161:616.
6- Pinilla M, et al. (2009). Quantitative thyroid scintigraphy in greyhounds suspected of primary hypothyroidism, Vet Radiol Ultrasound 50(2):224
7- Feldman DC, et al. (2015). Canine & Feline Endocrinology, 4th ed. St. Louis, Saunders 97-107

quarta-feira, 2 de março de 2016

Elevada precisão diagnóstica na peritonite infeciosa felina a partir da contagem de células nucleadas em efusões na Sysmex XT-2000iV


A peritonite infeciosa felina (PIF) é uma doença infeciosa letal causada pelo coronavírus felino (FCoV), que desencadeia uma excessiva resposta imune em gatos infetados com as variantes virais que sofrem mutações.1 O diagnóstico ante-mortem constitui sempre um desafio, especialmente na forma não efusiva (“seca”), devido à variabilidade de sinais clínicos e à baixa especificidade dos meios complementares de diagnóstico. Entre estes, a eletroforese das proteínas séricas (proteinograma) e a medição da alfa-glicoproteína (AGP) podem apoiar a suspeita clínica da doença.2-6 Contudo, nenhum destes testes fornece diagnóstico definitivo.2

Por outro lado, a forma efusiva (“húmida”) é mais fácil de diagnosticar, tendo por base a história e exame clínico, análises bioquímicas, e em especial, a análise de efusão. Macroscopicamente, as efusões típicas de PIF apresentam cor amarela, de aspeto turvo e viscoso, contendo por vezes coágulos de fibrina. O teor em proteína é geralmente elevado com diminuições marcadas do rácio albumina/globulina.7 As contagens celulares variam entre 2-6 x 109/L, até contagens superiores a 30 x 109/L8, sendo que citologicamente são encontrados principalmente neutrófilos degenerados, macrófagos, linfócitos e raros plasmócitos.1 O teste de Rivalta foi recentemente proposto como teste de alta precisão diagnóstica de PIF.9 Embora seja uma prova de fácil execução, geralmente utilizada para diferenciar transudados de exsudados, uma reação positiva deve-se à elevada concentração de proteínas, entre as quais fibrinogénio e outras proteínas de fase aguda, que são componentes abundantes em efusões de PIF, mas também em efusões por peritonite bacteriana, pleurite e linfoma.9

Assim estudaram-se efusões peritoneais felinas em 51 casos (20 com PIF e 31 sem PIF) e demonstrou-se que valor de ΔTCN, definido como rácio entre as contagens leucocitárias obtidas nos dois canais (DIFF/BASO), do equipamento de hemocitometria de fluxo Sysmex XT-2000iV, encontra-se aumentado em efusões peritoneais nos casos de peritonite infeciosa felina (PIF). O reagente do canal BASO promove a precipitação proteica com consequente aprisionamento celular devido à formação de microcoágulos de fibrina, sendo que estes coágulos aprisionam os leucócitos levando a uma menor contagem celular face à contagem do canal DIFF. Desta forma é possível obter uma elevada precisão diagnóstica em casos de PIF, com uma sensibilidade de 90% e especificidade de 93.53%. Valores ΔTCN>2.5 apresentam especificidade diagnóstica de 100%.2-10 (Veterinary Clinical Pathology 44/2 (2015) 295–302, American Society for Veterinary Clinical Pathology)


1. Pedersen NC. A review of feline infectious peritonitis virus infection: 1963-2008. J Feline Med Surg. 2009;11:225–258.
2. Hartmann K, Binder C, Hirschberger J, et al. Comparison of different tests to diagnose feline infectious peritonitis. J Vet Intern Med. 2003;17:781–790.
3. Paltrinieri S, Giordano A, Tranquillo V, Guazzetti S. Critical assessment of the diagnostic value of a1.acid glycoprotein for feline infectious peritonitis using the likelihood ratios approach. J Vet Diagn Invest. 2007;19:266–272.
4. Giori L, Giordano A, Giudice C, Grieco V, Paltrinieri S. Performances of different diagnostic tests for feline infectious peritonitis in challenging clinical cases. J Small Anim Pract. 2011;52:152–157.
5. Addie DD, Bel_ak S, Boucraut-Baralon C, et al. Feline Infectious Peritonitis. ABCD Guidelines on prevention and management. J Feline Med Surg. 2009;11:594–604.
6. Duthie S, Eckersall PD, AddieDD, Lawrence CE, JarretO. Value of a-1-acid glycoprotein in the diagnosis of feline infectious peritonitis. Vet Rec. 1997;141:299–303.
7. Shelly SM, Scarlett-Kranz J, Blue JT. Protein electrophoresis on effusions from cats as a diagnostic test for feline infectious peritonitis. J Am Anim Hosp Assoc. 1988;24:495–500.
8. Dempsey SM, Ewing PJ. A review of the pathofisiology, classification, and analysis of canine and feline cavitary effusions. J AmAnim Hosp Assoc. 2011;47:1–11.
9. Fischer Y, Sauter-Louis C, Hartmann K. Diagnostic accuracy of the Rivalta test for feline infectious peritonitis. Vet Clin Pathol. 2012;41:558–567.
10. Sakai N, Iijima S, Shiba K. Reinvestigation of clinical value of Rivalta reaction of puncture fluid. Rinsho Byori. 2004;52:877–882.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Biomarcadores e Doença Cardíaca. O papel dos Peptídeos Natriuréticos.


Artigo da autoria de:
Inês Bettencourt, Luis Lima Lobo
Hospital Veterinário do Porto, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias


Na última década tem surgido um grande interesse na investigação dos biomarcadores cardíacos em Medicina Veterinária. Os biomarcadores são hormonas elaboradas por um tecido específico do organismo que podem ser detetadas na circulação sanguínea. Alguns exemplos de biomarcadores usados frequentemente na prática clínica diária são o BUN e a creatinina para a função renal e a ALT e os ácidos biliares como marcadores de lesão e função hepática.

As aplicações clinicas dos biomarcadores cardíacos passam pela deteção de doenças subclínicas, determinação do prognóstico e severidade da insuficiência cardíaca, podendo ser úteis na determinação de uma terapia médica individualizada, assim como na avaliação da progressão da doença e da resposta ao tratamento.

Os péptidos natriuréticos (PN) são exemplos de biomarcadores, específicos de stress cardíaco, mais especificamente dos miócitos e têm um papel importante na regulação da homeostase cardiovascular.

Os péptidos natriuréticos mais estudados são o ANP (Péptido Natriurético Atrial), BNP (Péptido Natriurético Tipo B), Péptido Natriurético Tipo C e o DNP (Dendroaspis Natriuretic Peptide).

O BNP, originalmente identificado no cérebro de suínos e daí chamado de PN cerebral, é encontrado também no tecido miocárdico, mais especificamente nos ventrículos. No entanto, num estudo de Oyama et al, constatou-se que o BNP também se encontra elevado em situações de distensão atrial em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva (ICC).

Os Tipo B são os mais estudados, tal como a sua pró-hormona amino-terminal NT-proBNP, sendo estes os biomarcadores cardiovasculares mais importantes, estando agora bastante difundidos em Medicina Veterinária. Têm demonstrado ser de grande utilidade na confirmação do diagnóstico de insuficiência cardíaca, auxiliando na estratificação de perfis de risco a longo prazo. Oyama et al (2007), refere num estudo realizado a partir de medições das concentrações de diversos PN para a determinação de cardiomiopatia oculta, que há uma elevação das concentrações de BNP e ANP em cães assintomáticos que apresentam evidência electrocardiográfica e ecocardiográfica de cardiomiopatia. Revela-se assim a vantagem da análise destes que permitem uma ação terapêutica precoce e indicada para a patologia do animal.

Os BNP demonstraram serem anti-fibróticos, hipotensivos, natriuréticos, diuréticos e possuírem uma função relaxante no músculo liso, proporcionando um mecanismo protetor a nível cardiovascular.

A estimulação do músculo cardíaco pelo estiramento do miocárdio ou por hipoxia, leva a uma rápida produção de BNP, associada a uma sobrecarga de volume em pacientes com disfunção cardíaca.

Em humanos, os BNP e NT-proBNP são considerados biomarcadores cardiovasculares na ICC, sendo o NT-proBNP um dos marcadores mais recentemente associado a disfunção ventricular. São um excelente fator de diagnóstico em humanos que apresentem insuficiência cardíaca aguda e dispneia, apesar dos valores do NT-proBNP serem influenciados tanto pela idade como pela função renal.

Quando se interpretam os valores dos PN em cada animal há que ter em consideração outros fatores que podem igualmente influenciar estes valores, tais como a idade e o sexo do animal, função renal, função da tiroide e a presença de anemia. Num estudo realizado por DeFrancesco et al, não se conseguiu demonstrar uma relação estatisticamente significativa dos valores de BNP com a idade ou o sexo, apesar das concentrações de BNP estarem elevadas em cães machos e mais velhos. A obesidade é um fator que pode induzir uma diminuição dos valores sanguíneos do BNP e NT-proBNP.

Foram efetuados vários estudos em animais dispneicos com o objetivo de diferenciar, através dos biomarcadores cardíacos, a origem cardíaca ou não da dispneia. Oyama et al (2007), tinha como objectivo medir os níveis plasmáticos de ANP, BNP, endotelina e troponinas cardíacas I para distinguir se a dispneia em 48 cães tinha uma causa cardíaca ou não, chegando à conclusão que os PN como o NT-proANP, o BNP e a endotelina se encontravam mais elevados em pacientes com ICC. A partir de 330 cães, DeFrancesco et al (2007), verificou que os animais com tosse ou dispneia apresentavam níveis de BNP elevados quando a causa dos sintomas era cardíaca.

Por outro lado, Baumwart et al (2005), demonstrou que as concentrações de BNP em Boxers com cardiomiopatia arritmogénica ventricular direita não se encontram elevadas em comparação com animais saudáveis.

Em raças como o Dobermann, a cardiomiopatia dilatada (CMD) tem um componente genético, sendo uma doença de progressão lenta e uma das causas mais importantes de morbilidade e mortalidade em cães de raças grandes e gigantes. Por questões de prognóstico, terapêutica ou reprodução o diagnóstico precoce de CMD é essencial. Wess et al (2011) demonstrou que as concentrações de NT-proBNP se encontravam aumentadas em cães com CMD, mas também naqueles que vieram a desenvolver a doença num período de ano e meio.

A pesquisa de BNP e NT-proBNP pode também ser aplicada em gatos, para diferenciar insuficiência cardíaca de doença respiratória em animais com sinais respiratórios, tendo uma precisão de cerca de 90%. De acordo com Oyama et al (2012) os valores de BNP estão aumentados em gatos com doença cardíaca.

Uma da vantagens da utilização do BNP como auxiliar de diagnóstico de ICC é o facto de ser apenas necessária uma pequena quantidade de sangue, sendo acessível a qualquer clinico e não envolvendo meios técnicos dispendiosos ou que requerem técnicas muito especializadas. Se a sua interpretação for utilizada em conjunto com outros meios de diagnóstico convencionais, especialmente a radiografia, mas também a electrocardiografia e a ecocardiografia, consegue-se obter uma maior precisão e rapidez de diagnóstico. A realização de exames sanguíneos no diagnóstico de doença cardíaca em fase oculta é também uma das áreas promissoras na pesquisa de biomarcadores em amostras de sangue.


Referências

Boswood A. Biomarkers in cardiovascular disease: beyond natriuretic peptides. Journal of Veterinary Cardiology (2009) 11, S23-S32.

Baumwart RD, Meurs KM. Assessment of plasma brain natriuretic peptide concentration in boxers with arrhythmogenic right ventricular cardiomyopathy. AJVR, Vol 66, No 12, December 2005. 
DeFrancesco TC, Rush JE et al. Prospective clinical evaluation of an ELISA b-type natriuretic peptide assay in the diagnosis of congestive heart failure in dogs presenting with cough or dyspnea. J Vet Intern Med 2007;21:243-250.
Kimmenade RRJ, Januzzi JL. The evolution of the natriuretic peptides – current applications in human and animal medicine. Journal of Veterinary Cardiology (2009) 11, S9-S21. 
Oyama MA, Sisson DD et al. Distinguishing cardiac and noncardiac dyspnea in 48 dogs using plams atrial natriuretic factor, b-type natriuretic factor, endothelin, and cardiac troponin-I. J Vet Intern Med 2007;21:238-242.
Oyama MA, Sisson DD et al. Prospective screening for occult cardiomyopathy in dogs by measurement of plasma atrial natriuretic peptide, b-type natriuretic peptide, and cardiac troponin-I concentrations. AJVR, Vol 68, No 1, January 2007.
Wess G, Butz V et al. Evaluation of n-terminal pro-b-type natriuretic peptide as a diagnostic marker of various stages of cardiomyophathy in doberman pinschers. AJVR, Vol 72, No 5, May 2011.
 

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